No capítulo 5 do Evangelho de João, versículos 1-16, Jesus cura um paralítico que há 38 anos sofria com a sua doença. Ele se queixava de ninguém o levar à piscina (kolumbétra, em grego) de Betesda, no momento propício para a cura, quando a água se agitava. Havia sempre algum que se antecipava a ele e descia nas águas curativas. Jesus pergunta-lhe se ele quer ser curado, o paralítico conta-lhe a sua história e Jesus diz: – “Levanta-te, toma o teu grabato e anda!” E assim se dá.
A frase ainda se repete mais duas vezes. Uma, pelo próprio paralítico; outra, pelos judeus que, por ser sábado, recriminam o homem por carregar o seu grabato, não observando as regras do Shabbat.
A palavra grabato, no grego krábatos (esta palavra origina também o francês grabat), apesar de significar um leito miserável, enxerga, catre, é de fundamental importância no episódio.
Quando Jesus entra em contato com o paralítico, apenas pergunta se ele quer tornar-se sadio (hugiés, em grego), diante da lamentação do paralítico por não alcançar a tempo as águas da piscina de Betesda. Jesus o cura, sem sequer tocá-lo, sem dizer-lhe quem é.
Duas coisas podemos afirmar: o homem é curado pela sua fé; não há qualquer milagre no fato, mas a força da energia do bem que emana do Cristo é que curou o enfermo, do mesmo modo que cura a hemorragia de anos da mulher que toca, com fé, a fímbria de sua túnica e ele sente sair de si um poder (dúnamim, em grego – Lucas, 8,46).
Por outro lado, por que Jesus dir-lhe-ia para se levantar, pegar o grabato e andar? Por que não se omitir a ação de pegar o grabato? Não seria apenas para que o paralítico deixasse ali a sua enxerga, ou porque viesse a precisar dela.
O propósito maior de Jesus pedir-lhe para, uma vez curado, pegar o seu grabato é para que ele, o paralítico pudesse se lembrar de seu sofrimento. O grabato é a lembrança viva dos 38 anos de sofrimento em cima de uma enxerga.
Cada um de nós devia se lembrar de nosso grabato e carregá-lo, não nas costas, mas na mente, como lembrança do que sofremos por nossas próprias ações.
Jesus nos ajuda a curar, mas precisamos querer e ter fé para que isto aconteça. Estamos sendo curados, lentamente, a cada encarnação e podemos apressar a nossa cura, desde que aprendamos a lição, que se encontra nas últimas palavras que Jesus dirige ao paralítico, quando o encontra no templo: – “Ficaste curado, não cometas mais erros, (mekéti hamartáne, em grego) para que não te suceda coisa ainda pior”.
Não sabemos o que aconteceu ao paralítico, mas sabemos que ele disse aos judeus quem o curou e eles perseguiram Jesus. Assim fazemos nós: esquecemos as bênçãos que recebemos, deixamos de lado o nosso grabato, olvidando as dores por que passamos, e ainda demonstramos a nossa ingratidão vituperando quem nos enche de graça.
É preciso não esquecermos a nossa enxerga!