Aconteça o que lhe acontecer,
disse Auden,
a vida ... prossegue.
Se você se espernear,
alguém vai resmungar “Ao diabo que o
carregue”.
E,
como exemplo disso,
... pícaro,
deu o quadro de Brueghel sobre a indiferença ... geral ... ante a queda de um distante,
por isso minúsculo
Ícaro,
que de um lavrador trabalhando na plantação
sequer desvia a atenção.
A mulher aguarda
presa à grade de seus ciclos.
O radar
atento
vasculha.
As telhas
calhas e
bueiros
permanecem na expectativa.
O dia
adia.
(A espera é o espírito
desta esfera).
Tudo – na verdade ( redescubro agora ) - tem seu tempo certo.
Pode-se até caminhar sobre as águas
se congeladas.
Nada
portanto
de Luis XIV com sapatos Luis XV.
Existirá – porém - coisa mais deslocada do que imaginar Demócrito falando em átomo há vinte e cinco séculos
enquanto Anaxágoras discorria sobre a tese de que o homem descende de animais inferiores?
Ah
o retrato de Gala Placídia
feito em vidro por Bounneri Kerami
em Bréscia
Itália
século V
um milênio antes da hora!
Por outro lado
“Nascimento de Uma Nação”
o filme de Griffith
de 1914 ou 15
me parece muitíssimo mais antigo que as naturezas mortas de Eckhout
do século XVII.
A Ponte de Alcântara
construída em Portugal pelo Império Romano
me parece bem anterior ao sempre jovem Tejo
que passa debaixo dela
e é claro que houve um equívoco
quando se produziu science-fiction
no Egito de Tutankâmon!
(os dois últimos poemas são do livro Trigal com Corvos. O primeiro, excertos da Web)