Terás,
algum dia,
aristocrata,
borboleta de verdade de
gravata?
Aí
quem sabe se cancele,
na tua sala,
a cabeça do antílope morto à bala,
e surja,
ali,
um Botticelli!
como o hino
em que,
paulatino,
na semana santa,
tramita o arremedo
de um samba-enredo
... e,
na Paixão - prévia da … Ressurreição - vê que o Momo,
ninguém sabe como,
passa a ter,
na coroa,
espinhos,
em lugar das vedetes - nuas - e atléticos parceiros
fazendo das suas,
bem brasileiros,
em eufóricos carros alegóricos ( até gongóricos ),
inzoneiros,
o Cristo... praticamente nu,
crucifixão a cru,
ele sempre em lentos andores,
cheios de fiores,
o povo a entender o aviso,
com medo:
de que a vida não é brinquedo.
Sei que não há,
por exemplo,
na Natureza,
Justiça como a entendemos
e
( se previna ),
nem — como você aprendeu num templo — a... Divina.
A mim me fascina... não ser de Tupã o trovão,
e que a ira tenha outro nome:
fome,
na onça, lobo
e leão.
(excertos de Vida Aberta - Tratado Poético-Filosófico)