Defina-se “perfeição”: é o resultado da capacidade, do artista, de se sair genialmente bem do problema estético que lhe foi proposto ou que ele mesmo se impôs.
Há o momento pro estrondo da escola de samba de Vila Isabel e o do precioso sole do Jacó do Bandolim. Há o momento da majestosa “Tocata e Fuga em Ré”, de Bach, para gigantesco órgão, como há os instantes mágicos das pequenas peças para piano, de Satie, como suas Gymnopédies e Gnossiennes.
Ante o outdoor com vários emes da logomarca do Mcdonald´s fazendo Mmmmm, só pude dizer “Putz!” Mas a interjeição foi a mesma quando vi a logomarca de uma revista que jamais foi publicada – Mother & Child -, em que o & está inserido no “o” de Mother – feito um feto.
Quando perguntaram a Borges por que não se dedicara ao romance, mas ao conto, disse que, neste, “uno puede verlo como un todo”. Trabalhava com isso.
Sérgio de Castro Pinto pertence à classe dos joalheiros. Sua profissão de fé é a mesma de Bilac, pois também “No verso de ouro engasta a rima,/como um rubim”.
Decidiu-se a ocupar o menor espaço e tempo que lhe foi possível pra compor pequenas maravilhas como quando diz sobre a girafa que ela “é top model / é audrey hepburn”. Nesse mister, pinça associações ainda mais precisas, em que vê as cigarras como “guitarras trágicas” que “gargarejam/ vidros/ moídos.” E o que posso dizer quando leio “dou duas voltas/ na chave/ e trancafio/ a paisagem/ lá fora”?
Como disse Câmara Cascudo, os poemas dele são “claros, ágeis, nítidos,... suficientes.” Porque ele tem a chave do tamanho.