(Marcello Piancó)
A minha Heineken ficou mais amarga. Nem sei ainda qual o motivo, mas sinto que foi de improviso o que o destino fez com meu amigo Fred.
Na semana passada nos sentamos na mesma mesa da conveniência do posto em Tambiá e tomamos cada um suas três Heinekens da hora do almoço.
Era ali onde compartilhávamos histórias e risadas dos tempos do velho Praxedes e suas decisões salomônicas e misericordiosas. As nossas conversas eram verdadeiras séries originais de Netflix de boteco, onde cada semana o Super Fred contava uma aventura diferente. Seja do tempo que estudava em Recife ou das maratonas etílicas juvenis que percorriam de bambuzais a luzeiros e arrastavam personagens dos mais boco mocos aos da suma elite.
Fred sempre lembrava com orgulho de quando era secretário e conseguiu com as sobras de uma obra realizar outra. Mas na realidade ele urbanizou a Praça da Penha só com a humanidade que ele tinha de sobra.
A sua risada rouca ainda soa e soará para sempre nos meus ouvidos e as três batidas na madeira com o gargalo da Heineken não serão mais um ato para ajudar a abri-la de agora em diante passa a ser uma homenagem, um ritual que mistura superstição e respeito, lúpulo e lágrima.
O homem das mil viagens, fez sua última no meio de uma, só pra mostrar que o caminho é mais importante que o destino e pra dizer que quem ama o enredo não acredita em todo final. A semente que ele plantou neste plano acaba de brotar lá na imensa misericórdia, no pomar eterno onde sorriremos às pitangas.
Ave Fred Pitanga!