Dediquei parte de minha vida ao batente diário no rádio. Nesse período, passava cerca de cinco horas por dia usando os microfones de importante emissora de rádio da Capital, a extinta Rádio Arapuan AM – 1.340 KHz.
Apresentava dois programas diários: “João Pessoa, Bom Dia”, das 5h às 8h, e “Jogo Aberto”, das 12h às 14h. Fazia isso sem contar com nenhuma espécie de produção, o que seria impossível hoje. Nos dias atuais, no mínimo, seria uma tremenda aventura, um voo cego.
Contava apenas com o telefone da cabine (às vezes cortado por falta de pagamento); um carro de frequência modulada circulando pelas ruas, com um repórter esperto a bordo; a simpatia do operador de áudio - e nossa criatividade, já que a internet só era conhecida nos livros de ficção científica.
Os programas começavam na hora certa, sendo a pontualidade britânica uma das marcas do apresentador. Mas nunca terminavam no horário preestabelecido, em razão da grande audiência e da presença de ouvintes para participarem das atividades no próprio estúdio - ou simplesmente para terem uma "conversa particular" comigo, na sala de espera, pedindo uma orientação, um conselho ou um favor qualquer: a libertação de um filho preso injustamente, proteção para vítimas da violência policial, internação de um parente enfermo ou o enterro de algum miserável.
Por força das circunstâncias - o que me deixava na condição de um misto de camelô e repentista -, era obrigado a comentar (e a me posicionar publicamente) a respeito dos mais variados assuntos - da falta de água nas torneiras à falta de vergonha das autoridades.
Era, portanto, sem ter essa intenção (e para o bem ou para o mal), uma figura polêmica, com alguma notoriedade na província, em consequência dessa minha diária hiperexposição pública. Apesar do sucesso, sentia-me uma espécie de doutor em generalidades. Um tagarela, por dever de ofício.
Talvez seja por isso que, volta e meia, ainda hoje me peçam para falar sobre o rádio paraibano, quase sempre colocando à frente a tão surrada pergunta: “O rádio daquele tempo era melhor do que o de hoje?” Resposta impossível de ser dada: os tempos são outros, o modo de fazer é outro, os empresários são outros, os profissionais são outros, a audiência é outra. Logo...
Só acho estranhas, hoje, as pautas de Polícia e de Política, infalivelmente presentes no dia a dia do ouvinte; uma presença que se dá a toda hora, a todo instante. Pode observar: no rádio (e, às vezes, até mesmo na TV), só dá Polícia e Política! Argh!
Para não ir muito longe, até porque não tenho mais tempo para nhém-nhém-nhém, vamos ao que realmente interessa: comecei a desligar o rádio e a televisão quando a cobertura responsável foi substituída pela dramatização excessiva.
No passado havia mais sobriedade em tudo. E hoje, portanto, ao fazer este comentário, sinto que o saudosismo (de minha parte pelo menos) é no mínimo inevitável.
* (foto à esquerda: Arquiteto Clodoaldo Gouveia, autor do Projeto da Rádio Tabajara, no centro de João Pessoa, demolida)