João Pinto é calado. Olhos sempre abertos e perscrutadores, olhando para você como se quisesse ver na sua alma. Magro, mas sem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral; pele acobreada, parece saído de um rabisco das grutas da Serra da Capivara. Tenso, cada músculo seu reflete o conflito de quem está sempre examinando mundo.
Piauiense de nascimento, trocou a faixa estreita de sua terra pela largueza dos rios e florestas da Amazônia. Ali, fez-se caboclo, imiscuindo-se entre pirarucus e igarapés, descobrindo a imensidão das águas e o portento das sumaúmas; ali, escolheu uma das iaras de Manicoré, para perpetuar o gene resistente.
Fala pouco. A boca é um risco. De suas mãos e dedos longos, no entanto, correm poemas e histórias, tão sedutoras e profundas quanto a blandícia do boto tucuxi.
Companheiro das Letras, vivemos um desafio poético nos difíceis anos 70, para depois reencontrá-lo no mundo amazônico, onde abraçou e pelejou a boa peleja na sofrida e deliciosa profissão de professor.
Simbiótico, suas águas amigas não rejeitam outras águas, misturando a sua fala mansa e precisa, e seu afeto contido, mas imenso, a qualquer que lhe saiba compreender os segredos e mistérios da criação que pululam em sua mente.
Rodapé à epígrafe: " Passei a vida atrás de novidade. E quem faz isso, subverte a fala que fala a mesma coisa. Cria o riso que alguém já sorriu, ou a morte que alguém já matou. É por isso, minha senhora, o que eu quero te dizer seja aquilo que nunca te disse. Só assim te puxo para dentro da minha gaiola" (João Pinto)