Numa matinê de sábado, depois de uma semana com rinite alérgica e sinusite, e de perder pessoas queridas da cidade, queria me distrair. E fui assistir o filme Mamma Mia 2. Já tinha visto o primeiro (e adorei!) e assisti também o musical na Broadway, em 2015. O que me levou a sair do teatro com a lombar doída de tanto cantar e dançar na cadeira a trilha do grupo Abba. Realmente uma catarse !
Pois sábado fui ver a continuação do musical da menina e seus três pais. E passeando pelas Ilhas Gregas, e ouvindo aquelas músicas, me peguei choramingando. Um filme sobre a saudade. Saudade de uma filha pela mãe (a personagem de Meryl Streep no Mamma Mia 1). A história dessa vez, é sobre a vida de Donna (Meryl Streep), antes de chegar à Grécia, agora vivida pela linda Lilly James, atriz que tinha acabado de assistir no dia anterior, em outra ilha idílica, no filme – Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batatas.
E nessa saudade, viaje nas minhas lembranças pela Grécia, numa viagem esplendorosa que fiz em 1987; pelas mussakas que comi; pelos caminhos imbricados das ruelas brancas e azuis de Mikonos, e o meu êxtase particular de me ver perambulando também em Santorini a comer Octopus grelhado e me perder no azul anil do Mar Egeu.
Tive amigos gregos no meu ano de Mestrado na University of Warwick, na Inglaterra 1986/7. Chorei de saudades deles também. E de saudade em saudade, foi me dando um sentimento esquisito. Um misto de alegria e nostalgia. E quando dei por mim, estava aos prantos em Mamma Mia!
No meio do filme, me veio á tona a paixão pelos atores Colin Firth, meu eterno Darcy, e que, dançando desengonçadamente, fica ainda mais sedutor, e de Stellan Skarsgard (meu estranho querido de Melancolia, Dançando no Escuro, Dogville), e no filme, um dos dançarinos alegres e fanfarrões na festa pra Donna! Ah! Minhas paixões cinematográficas!
Cinema é diversão sim. E como foi reconfortante estar esparramada naquela Sala Vip, sessão da tarde, com os olhos rasos d´água cantando Mamma Mia, e passeando nas lembranças de um inverno em NYC com minha irmã Claude; ou re-lembrando minhas andanças, quando jovem, pelas Ilhas Gregas, com minha saia de chita, comprando brincos de alpaca , e identificada com aquelas figuras dançantes daquela ilha com portas azuis (pintei as da minha casa uma vez, só para ter o gostinho dessa lembrança; como também pintei a casa de terracota para me sentir no filme de Bertolucci – Beleza Roubada!). O cheiro de azeite fino e pepinos nos iogurtes, pude sim fazer uma viagem nas memórias afetivas de uma vida passada a limpo na diversão e arte. Como diz um amigo filósofo: “o esquecimento como lembrança!”
Saí do cinema de olhos gordos e empapados de lágrimas. Um choro pelos mortos da semana (Juvenal e Jorge – que nem conhecia, mas que fazia parte do meu grupo de Caminhantes). Um choro também pelos meus mortos. Minhas saudades tantas. Mas nem por isso triste. O sentimento de efusão da celebração ao amor da filha pela mãe; dos brindes à amizade e ao amor, me deram mais ânimo e alegria para seguir direto à UFPb, Sala de Concertos Radegundis Feitosa, e assistir o Recital do menino Vitor Diniz, filho da minha amiga da infância, Dodora Diniz e Luismar , e que , desde a barriga acompanho os passos e os sopros da sua Flauta Mágica.
Quando lá cheguei, vi, pela primeira vez, o belíssimo mural- A Bagaceira – do artista Flavio Tavares. E por entre engenhos, cabritos, carros de boi, e senhoras com o olhares perdidos no horizonte, também me deixei perder no interior paraibano, no cheiro enjoativo do melado do açúcar, da minha infância pelos engenhos e usinas das primas queridas.
E do Brejo às Ilhas Gregas, a distância se fez pequena. Minhas lágrimas enxugaram. E o meu sábado terminou em pizza. Literalmente. Brindando à vida com as amigas, Margarida Assad e Fátima Duques. Na esquina de casa.