Curiosamente, os que desejam mudança anseiam ou fazem alguma coisa (qualquer que seja) pelo progresso da cidade, terminam, com os anos, passados para trás.
No tempo do bonde, quando se levava uma hora para, partindo do Ponto de Cem Réis, desembarcar em Tambaú, quanto nos penalizava aquele atraso! Além da Estação de Luz era só mato, capoeira, o uso humano do mundo representado por alguma casa de granja entre coqueiros e grandes roças de macaxeira. Para a direita, a Torre era um morro onde o primeiro plano urbano fez a curva. A maioria pagando foro da casa ou da choça e com a amplificadora que elegeu João Freire vereador e ensaiou Paulo Rosendo para o grande locutor que culminou na Tabajara. A Torre era uma Alagoa Nova sem a Yayá Tavares, a nossa rua central de lá. O pároco, padre Hildon, falava e agia no mesmo tom de Alagoa Grande.
Jaguaribe, que já tinha sido estrada dos macacos, era onde moravam os linotipistas, os chapistas de A União, os pequenos barnabés estaduais, municipais, os diaristas, extra-numerários, o casario em demanda da mata, separado da aristocracia residencial em ângulo que apertava o bairro entre Trincheiras e a João Machado. Revisor do jornal em 1951, era um tormento enfrentar a madrugada sem lua para chegar em casa, na Alberto de Brito. Não pelo assaltante comum, que era mais de galinha, mas pelos lobos e pastores alemães que ficavam guarnecendo os gradis senhoriais, as mansões dos donos do poder e da riqueza. Jaguaribe fazia extrema com essas duas linhas em ângulo reto onde se encastelavam os Ribeiros, os Nóbregas, Gusmãos ou mais notáveis da advocacia e da medicina. Na safra, era de onde vinha mais manga: os balaieiros chamados às janelas não para vender, mas para encher mais o balaio com a sobre arriada dos quintais.
Na Alberto de Brito, 41, a casa onde morei com minha mãe era separada da mansão que hospedou Getúlio, dos Amorins, por uma praça copada de oitizeiros. Eles continuam fiéis a mim e ao tempo do órfão de pai que aprendeu a ficar à sua sombra e a livrar da solidão muitas das suas dúvidas e perguntas. Ainda hoje os procuro. Ah quanto tempo, amigos! Eles e seus irmãos da Praça Pedro Américo; os de Tambiá, venerandos e saudáveis, já não dão na vista, o tráfego não deixa. (A gente tem que prestar atenção ao carro da frente, ao de trás, ao sinal, ao cinto de segurança, a vida fora de si, presa ao minuto, aos segundos.) Aí a cidade que vegetava em nós, que respirava conosco, já não é mais nossa, isto é, do nosso tempo. Já não botamos flores com ela. Nem a conhecemos mais, se é que o espaço que a urbe tomou do bonde, que fez do concreto a floresta, tem alguma coisa conosco…
Numa noite dessas, vinha de Intermares, onde fui deixar um amigo. De repente areio. Paro, pergunto ao homem da barraca. Quanto mais ele me diz mais fico sem saída – O sr. não é daqui? / - Já fui.