(Luiz Nunes)
NA ESTRADA
Na estrada, o desejo é dirigir
Loucamente, com vontade de chegar,
Sem sentir o risco de atropelar
O presente, vendo a morte do porvir.
Bem podia com a prudência dividir
O volante. Esta a forma de evitar
O pior, que consiste em não chegar,
Ou chegar, mas não ver-se acudir.
Expor-se ao perigo é não querer,
Nem a sua, nem a vida de outro ser,
Posto que, o egoísmo, desatento,
Como se no papel de guilhotina,
Decepa na estrada, em cada esquina,
Restando imprecação, cruz e lamento
(2011)
CORRUPÇÃO
Ela está no esporte, no turismo,
Na infraestrutura, no trabalho,
Para onde quer que vá, prefere o atalho,
O poder lhe aguça o dinamismo.
Nela, implícito, se ergue o banditismo
Dos que agem tendo em vista a vocação
Para assalto, onde houver repartição
Pública, como ocorre no presente,
No Brasil de Anchieta e Tiradentes,
E seu nome, já se sabe, é CORRUPÇÃO.
(2011)
VÍCIO INCONSEQUENTE
Aceso pelo vício inconsequente,
O fogo se alastra e sai queimando
Os órgãos que se vão debilitando,
Enquanto não se finam plenamente.
Muitos não dão conta, infelizmente,
Dos males, como tais, se propagando,
E pitam, mesmo assim, e vão pitando,
Pois viver lhes parece indiferente.
Preferem enfrentar o enfisema
No pulmão; um abscesso, o apostema,
É certo, amiúdam-lhes o pigarro,
Porém esses, a tudo indiferentes,
Insistem em tornar bem mais freqüentes
Os tragos cancerígenos do cigarro.
(2003)