(José Leite Guerra) Vem-me à lembrança o professor Manoel Viana. Nossa turma o estimava pelo comportamento nivelado que mantinha conosco, se...

Mestre Manoel Viana


(José Leite Guerra)

Vem-me à lembrança o professor Manoel Viana. Nossa turma o estimava pelo comportamento nivelado que mantinha conosco, sem perder a autoridade e a desabrochada ternura sobre nós. Ensinava Filosofia em nossa turma irrequieta e estudiosa; também no Curso Superior da mesma ciência das ciências (consoante se propalava) em edifício contíguo ao velho Liceu Paraibano.

Guardo dele a expressão mais simples e espontânea do método de ensinar. Não chegava a ser uma aula-espetáculo das que emgrande número espalhou Ariano Suassuna pelos rincões do Brasil, de onde jamais saiu, defendendo com ardor e humor a Cultura - perfil de nosso povo, desde o folclore, este a envolver cantigas, costumes, ladainhas, enfim a produção de raiz tão bela e rica.

Mas professor Manoel Viana nos deixava relaxados com suas tiradas de humorismo, sempre ligado à matéria tratada na aula. Quando adentrava à sala de aula, afrouxava a gravata, tirava o paletó (era costume o mestre-escola vestir-se a caráter, opcionalmente, quando não usava jaleco, a exemplo do notável professor Iveraldo Lucena).

Assim desembaraçado da indumentária devido, segundo ele, ser avesso a certas formalidades e ao calor reinante, começava a passear conosco; com ele viajávamos à Grécia, a encontrar os luminares de Sofia: Platão, Aristóteles, nos conduziam a outros gênios do saber, dos “arqueólogos” incansáveis de indagações e respostas bem fundamentadas. As lições trazidas de lá, nos deixavam menos obscuros no pensar. Um pensar conduzindo sempre à reflexão (re-flexão) curvar-se sobre si mesmo.

A Filosofia nos clareava noites do espírito, nos deixava despregados de conceitos petrificados, nos dava asas. Lembro-me de famosa sentença do Ministro e intelectual José Américo de Almeida constante da parede do edifício-sede da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba, da qual foi um dos fundadores: “Eu vos dou raízes; outros vos darão asas e o selo da perpetuidade”.

Professor Manoel Viana nos fazia escavar as raízes e nos dotava de asas para voos do pensamento – pensamento que faz a diferença extrema entre o ser humano e o animal de outras espécies. A Filosofia nos incluía num mundo fascinante, num “carisma de explorar” os porquês do quando, para que, para onde, de onde, etc. Tinha a vocação de ilustrar e trazer à presença dos alunos problemas existenciais os mais diversos e diamantes jamais suspeitados por nós, adolescentes ainda, começando a indagar sobre o mundo.

Saudades do inesquecível professor Manoel Viana Correa.



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