(Ângela Bezerra de Castro)
A Sociologia do Romance, de Lucien Goldmann, é um texto já considerado clássico sobre a narrativa épica moderna. Sua força de convicção teórica não reside somente na coerência contextual, mas, sobretudo, em prodigalizar aplicações práticas, de férteis conclusões esclarecedoras. Não se trata apenas de uma formalização linguística, modo solene e técnico de apresentar uma leitura, a fim de granjear-lhe a credibilidade.
As categorias de Lucien Goldmann, seguindo a tradição do pensamento de Marx e Lucáks, são antes de tudo o resultado do esforço interpretativo no sentido de estabelecer os presumidos e perceptíveis vínculos entre a realidade social e a forma narrativa ficcional, que se consubstanciou na moderna expressão romanesca.
Por isso, aplicar as categorias de Lucien Goldmann a um texto é tentar, sobre o objeto de leitura, dupla compreensão: de sua estrutura intrínseca e da relação entre essa estrutura e a realidade sócio-econômica em que está inserida a obra. Atitude decorrente da tese central da Sociologia do Romance, segundo a qual “existe uma homologia rigorosa entre a forma literária do romance [...] e a relação cotidiana dos homens com os bens em geral; e por extensão, dos homens com os outros homens, numa sociedade produtora para o mercado”.
(Extrato de "Re-leitura de A Bagaceira", de Ângela Bezerra de Castro)
Nota: A referência à teoria de Goldmann como apoio teórico conferido por Ângela Bezerra de Castro, há mais de 40 anos, ao romance A Bagaceira, em sua primorosa releitura da obra de José Américo, imiscui-se fortemente à literatura atual. É evidente que, conquanto tida como condição teoricamente hipotética, essa influência do social sobre a expressão criativa não se limita às letras. Hoje, talvez mais do que nunca, é notoriamente exercida com a mesma força em outras formas de arte como cinema, poesia, música, pintura e até na própria arquitetura. desde que o homem se fez criativo. (Germano Romero)