Tanto é gostoso sair, como chegar. O ir é uma aventura e o vir é uma rotina. Tudo, afinal, se resume num festival de emoções, saudades e esperanças.
José Américo disse que ninguém se perde na volta. A frase, que se tornou famosa, encerra uma grande verdade. Chega um momento em que a saudade termina pedindo para a gente voltar. Voltar à nossa gostosa rotina.
Lisboa agora é um trampolim nessa viagem de volta. Daqui saltaremos num vôo até o nosso país. São mais ou menos oito horas de vôo. Desceremos em Recife. E fico pensando... até quando teremos que ir pra Recife ou Natal para embarcar ao exterior?
O tempo está claro. A aeronave já sobe faminta de espaços. E tudo agora virou passado. Repito o que disse no título de meu último livro: Viajar é Sonhar Acordado. Agora é fechar os olhos e rememorar o que se viu, e o que se reviu.
Noto muito cansaço nos passageiros. Muitos dormem. Dormem ou sonham. E me vem um desejo enorme de chegar logo ao meu país, de que estou ausente há dez dias. Mas o avião, apesar de sua grande velocidade, parece parado no espaço. Ele vai devorando distâncias por cima do oceano.
E empoleira-se na minha imaginação a interrogação: se o avião caísse, você preferiria no deserto, na mata ou no mar? Ora, ora, este cronista, sem dúvida perdeu o siso, lembrando o poeta Olavo Bilac… Mas não custa nada perguntar, pois é perguntando que a gente chega à verdade. A filosofia nasceu da pergunta. Que diga o grande Sócrates, que pensou tão alto, mas que nunca, decerto, imaginou que, um dia, um brasileiro, inventaria esta máquina que voa sobre nossas cabeças...
Retiro os olhos e a curiosidade da janelinha do avião, e fico aguardando a aterrissagem em terras brasileiras. Deixo a aeronave com esta reflexão: é bom sair da rotina em busca da aventura, mas, voltar à rotina bem que é muito gostoso.