Ele nunca cruzou os braços diante dos desafios existenciais. Lutou até o fim, sem jamais perder a dignidade que o caracterizava. Disse um escritor que Bach era sereno e Beethoven sério. Disse o grande místico Amiel que Bach era Deus e Beethoven, homem. E a Sinfonia do Destino nada mais é do que a luta do homem diante das intempéries, dos sofrimentos e da dor.
Começa essa partitura com aquelas quatro notas, representando as pancadas do Destino, com o qual o genial compositor trava uma terrível luta, mas que, finalmente, sai vitorioso.
O Beethoven-homem, entretanto, não se afastou do Beethoven-místico, o Beethoven que procurava sintonizar-se com a Divindade, seja na Pastoral, essa idílica sinfonia em que o compositor procurou exaltar o Deus Natureza, a que se refere o filósofo Spinoza, seja quando entoou aquele grito de alegria na Nona Sinfonia, saindo da horizontalidade humana para a verticalidade divina, da terra para o céu, da imanência para a transcendência. A verdade é que a vida de Beethoven transitou entre esses dois pólos: o humano e o divino.
Na Natureza, ele procurava o silêncio de um templo religioso, no tempo em que o templo era um oásis de silêncio. Ali ele esquecia os seus dissabores, as suas dores. Em contato com as árvores, ele encontrava a paz que não encontra entre os homens.
Voltando à quinta Sinfonia, vale a pena ouvi-la, seja no andante heróico, seja no movimento final, verdadeiro grito triunfal de um homem que teve tudo para se suicidar, tudo para desertar da vida, mas que, com admirável heroísmo conseguiu triunfar sobre as limitações que o Destino lhe impôs.
A Sinfonia em Dó menor é a homenagem ao homem, a Sinfonia Pastoral é a homenagem à Natureza e a Nona Sinfonia é a sintonia com a consciência cósmica. É o homem mergulhando no Divino.
Beethoven ainda é a grande referência. Referência que merece toda a nossa reverência. Sua música não é apenas para ser escutada. Mais do que isso. A música do genial compositor nos induz a muitas reflexões. Reflexões sobre a nossa vida, sobre o nosso destino.