Os filósofos da antiguidade, a exemplo de Aristóteles, ensinavam andando. Era o método chamado peripatético. Professores ou oradores que se movimentam conseguem fluir melhor as idéias, e prendem mais a atenção do auditório. Duvido que alguém durma com um professor que dá aula pra lá e pra cá.
Estou me lembrando de um mestre meu, de Metafísica, na antiga escola de filosofia, que dava aulas se movimentando, gesticulando. Chegava ao ponto de tirar o paletó, depois a gravata, e o meu medo era que ele viesse a fazer um strip-tease... O professor não é outro senão o nosso Manuel Viana, cujas aulas muito nos empolgavam. A disciplina, conquanto difícil, terminava entrando fácil na nossa cachola.
Também me lembro do grande professor de Filosofia do Direito, Miguel Reale, que vinha de São Paulo nos ensinar aquela difícil matéria nos cursos de especialização de nossa Faculdade de Direito. Muito loquaz, de estatura média, o homem andava pela sala de uma ponta a outra, atraindo a atenção de todos nós. Culto, erudito, ele tinha uma didática admirável. Seria horrível se ele ministrasse as aulas sentado...
Mas é preciso lembrar que o silêncio também é recomendável à produção de idéias. Quem fala muito pensa pouco.
Os grandes filósofos gostavam de caminhar. O velho Immanuel Kant, cuja cidade onde nasceu e viveu, o meu filho Carlos Augusto acabou de conhecer, costumava, todas as tardes, dar um passeio pela sua Königsberg, hoje chamada Kaliningrado. E saía de casa na hora certa. A cidade toda acertava seus relógios pelo pontualíssimo horário da caminhada do filósofo da Razão Pura, e da sabedoria peripatética.