O sorriso estava sempre nele. Dizem que quando a gente está pensando muito numa pessoa que já desencarnou, é o espírito dela que deseja se comunicar. Se assim é, lembremo-nos do espírito de Virginius da Gama e Melo, que já se foi daqui, há muito tempo.
Ele foi um mestre e uma das minhas melhores amizades. Foi mais professor que amigo. Eis um homem de muito charme, de muita elegância. Apenas a sua conversa já era uma aula.
Vivia com um meio sorriso nos lábios. Com a fala mansa, educada, possuidor de alto espírito crítico, o nosso amigo era um mestre por excelência. A voz suave, mas, vez por outra, desabando num gostoso sorriso.
Nunca o vi mal humorado. Bom humor era o que o caracterizava. Falar mal de alguém, jamais. Eu tinha o privilegio de morar perto dele. Éramos quase vizinhos na Rua Batista Leite.
Não me esqueço de uma visita que lhe fiz e que terminou na oferta de umas bonitas mangas-rosas tiradas de seu pomar. Conversar com o Mestre era um privilégio. E eu gozei por muito tempo desse privilegio. Ele escreveu artigos, crônicas, ensaios, e tem um suculento estudo sobre a Revolução de Trinta. Eu o admirava como pessoa humana e como culto pensador.
Certa vez, foi fazer uma conferência, que ocupava muitas laudas de papel, e terminou largando os papéis ao lado, encurtando o discurso por achá-lo longo.
Deixou a vida sem pleitear uma vaga na Academia de Letras. Não tinha jeito para pedir votos.
Virginius foi um admirável príncipe das nossas letras. O gosto das bonitas mangas-rosas passou, mas minha admiração por ele jamais passará.