Tenho certeza que o Mestre foi a essa festa sem muito entusiasmo. Ele veio ao mundo para ensinar, para curar. Não tinha tempo a perder.
E aconteceu o que ninguém esperava: Faltou vinho no meio da festa. E Maria não pensou duas vezes, correu até o filho e informou: Acabou-se o vinho e os convidados estão sem ter o que beber. A resposta do meigo nazareno veio logo, Uma resposta um pouco seca. Sim, não havia chegado, ainda, a vez de ele praticar os seus milagres. No entanto, terminou transformando água em vinho.
Eis aí dois símbolos: o da água e o do álcool. Dir-se-ia que o vinho é o entusiasmo. Esta a verdadeira simbologia. O resultado é que todos ficaram eufóricos e Maria feliz da vida.
Mas Jesus não veio para festas. Sua missão foi outra: ensinar, curar, orar, pregar, divinizar o homem.
A verdade é que a transformação da água em vinho foi o seu primeiro chamado milagre. E ele ainda relutou em fazer aquela transmutação. Daí ter dito à sua mãe: Ainda não chegou a minha hora.
Sim, a hora de transformar consciências, e não água em vinho. A hora de transformar o ódio em amor, a vingança no perdão, a ignorância na sabedoria, o efêmero no eterno.
A festa foi uma distração. E qual é a festa que não é distração? Na festa, o homem esquece a si mesmo. A distração é o avesso da conscientização. Todo mundo saiu daquela festa de casamento, chamada Bodas de Caná, esquecido de si mesmo, graças ao vinho.
Mas, Jesus, o que desejava mesmo fazer era dar o vinho da verdade. Aquela verdade que liberta, aquela verdade que Pilatos procurou e não achou. E lembrar que o nosso Machado de Assis comparou o vinho à verdade, quando disse, em Quincas Borba: “Não há vinho que embriague mais que a verdade”. Mas, Jesus, costumava dizer: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.