Foi um momento emocionante aquele. Não estaria sonhando?... Eu, lá em cima, no monumental teatro - a Philarmonie de Paris - e ele, lá embaixo. Ia executar o Concerto nº 5, de Beethoven, para piano e orquestra. Concerto conhecido como “O Imperador”, de minha predileção.
Olhei para baixo. Gente como diabo. Gente, por sinal, muito chique. A Paris culta, decerto, estava, ali. E o pianista, baixinho, simpático, quem seria?...
Olhei para baixo. Gente como diabo. Gente, por sinal, muito chique. A Paris culta, decerto, estava, ali. E o pianista, baixinho, simpático, quem seria?...
O início desse concerto de Beethoven é de uma majestade impressionante. Dir-se-ia o retrato sonoro do gênio de Bonn. E as mãos divinas do pianista dançavam no teclado, numa desenvoltura e precisão admiráveis. Afinal, quem é esse pianista, de semblante tão sereno e simpático? É o nosso Nelson Freire, brasileiro de corpo alma, um dos orgulhos máximos de nosso país!
Quando ele deixou o teclado, o teatro esteve ameaçado de cair com tantos aplausos. Eu, Alaurinda, Germano e Davi não cabíamos em nós, de contentes. No intervalo, desejávamos abraçar Nelson, mas, fomos informados de que ele viajaria, logo após o concerto, para outra apresentação, no dia seguinte, em Bruxelas. E eu só desejava dizer a ele: Nelson, beije suas mãos todos os dias. Elas são divinas!
O Brasil deve se envaidecer desse pianista admirável, que mora em Paris. Homem simples, de uma modéstia encantadora, Nelson é o orgulho de todos nós.
Nossa viagem ao exterior fechou com chave de ouro com aquele concerto de Beethoven, que, tenho certeza, daria um grande abraço no talentoso virtuose. E Nelson é de uma simplicidade comovente. Homem de pouca fala, muito comum nos mineiros, seu talento se expressa na música, no piano.
Nesse recente passeio, ouvir Nelson tocar foi uma dádiva do céu. O Brasil lhe deve muito.
Carlos Romero é cronista e patrono do ALCR (in memorian)