A avenida é a Monsenhor Odilon Coutinho, final da Beira Rio. Fica defronte de nossa residência. E é por ela que os buscadores passam, numa alegria que emociona. Quase todos vão sorrindo. Sorrindo, sim, pois buscam o mar. De suas casas até o mar, bem que é longe, mas pouco importa. Devagar, vai-se ao longe, como diz o ditado. Ninguém está triste. Com suas chinelinhas japonesas, lá se vão, que a vida não é só sofrimento. E a caminhada ocorre sempre nos dias feriados e domingos.
À medida que andam, cresce a alegria. A alegria de ver o mar bem perto. O mar que nada lhe cobra pelo banho, pela corrida na areia. Caminharam muito, suaram muito, mas valeu o esforço. Nas águas esquecem tudo. Esquecem até que são pobres. Ainda bem que o mar não é comprado. Ainda bem que o mar é de todos.
E assim, eles passam horas e horas esquecidos de seus problemas. Mas, o tempo passa rápido, o dia já vai escurecendo e acabou-se o que era doce. Daí a grande tristeza da volta. Vêm cansados, mal humorados, as crianças chorando.
Comparo esta caminhada em busca do mar a uma imagem da vida. Pois o que é a vida, senão uma incessante busca do prazer?
A avenida agora está escura, o mar, certamente, dorme. Mas amanhã é outro dia... Viva a busca do prazer. Sem ele, que seria da vida?
O prazer de amar, o prazer de se alegrar com a vida, o prazer de perdoar, o prazer de viajar, o prazer de ler, o prazer...
Mas o prazer dos meus caminhantes da avenida é ver o mar, é mergulhar no mar, brincar no mar, esquecer a vida carente que andam levando.