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A fé, o café e o Espiritismo


Por que a lembrança destra tríade? A junção de um sentimento, de uma fruta e de uma doutrina? É por que tudo isso me faz lembrar meu pai, José Augusto Romero, que foi seminarista, plantador de café, lá nos Cariris Velhos, e, por fim, professor. Ele preparava os alunos que iam estudar na capital. Deu-se bem na nova profissão. Ensinava Português, Matemática, Física e Astronomia. Ele sempre teve os olhos para cima, maravilhado com a beleza muda e mística do Universo.

Adolescente, seu pai Agostinho tratou logo de cuidar de sua educação religiosa, internando-o no Seminário desta Capital, que ficava ao lado da Igreja de São Francisco, pois desejava muito ter um filho padre. Dava status. E o pai, num tom seco e imperioso, lhe disse: “Você vai ser padre. A família precisa de uma batina”. O menino, que vivia solto no sítio onde se cultivava o café, só fez dizer um simples e humilde: “Sim, papai”.

A vida rígida do Seminário foi uma mudança da água para o vinho, Exagerada disciplina, muito silêncio, muitos estudos, inclusive do Latim, que era uma espécie de idioma de batina. A saudade de casa era profunda e lhe trouxe muitas lágrimas nos olhos. Saudade do sítio, saudade da vida livre, saudade da família. E aconteceu que o menino foi, mas não gostou. Começou logo dizendo a um monsenhor que não acreditava em inferno, nem em satanás. Terminou deixando o Seminário, voltando a respirar o ar puro do campo.

E lá soube muito bem cultivar a terra para o plantio do café. Chegou até a dizer, certa vez, à esposa, que foram os galhos do cafezal que destruíram sua vasta cabeleira, o que fez minha mãe cair na risada. O velho tinhas suas vaidades. Tanto cultivava o espírito quanto o corpo físico. Vi-o, várias vezes, praticando uma ginástica sueca de um tal Muller.

Um certo dia, levaram-no para assistir a uma sessão espírita, lá em Alagoa Nova, quando se manifestou o espírito de uma prima querida, trazendo uma mensagem com detalhes que muito o impressionaram. Daí tornou-se espírita até os ossos, cuja crença foi reforçada com a leitura do livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis, lido com muito entusiasmo. E não ficou nisso. Tratou logo de fundar um Centro Espírita em Alagoa Nova, para desespero do padre daquela localidade.

Quando completei 4 anos, ele já era espírita. Casou-se com uma viúva bonita, de chamar a atenção, Pia de Luna Freire, na intimidade Piinha. Ficou encantado com a beleza da viúva, com quem teve oito filhos.

Então chegou a vez de se mudar para a Capital, onde comprou um sítio na Lagoa, hoje Parque Sólon de Lucena. Seus moradores o chamavam de Zé, e muito o respeitavam. Até o padre Zé Coutinho, o extraordinário missionário, que foi seu colega de seminário, quando se encontrava com ele, sabedor de sua nova crença, indagava sorrindo: “Zé, como vai teu Espiritismo?”

Espírita até os ossos, dedicou a sua vida à Federação. Sereno, responsável, boníssimo, o ex-plantador de café não quis mais outra coisa na vida. Uma vida marcada pela fé, café e Espiritismo.

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