De poucos músculos e carne, mas de muito humor, o sorriso dele era todo pra dentro. Um sorriso de muita sabedoria. E era assim que ele ia levando a vida.
Seu grande amor era o Bessa, onde tinha uma residência, toda virada para o mar, e que para ele era uma espécie de santuário, onde se benzia em comunhão com a Natureza, que tanto defendeu.
Outra sua paixão: o Planalto do Cabo Branco. Paixão mesclada de muito ciúme. Tenho a impressão que ele desejava que ninguém passasse, por ali. E ficou danado quando soube que a prefeitura mandou construir a Estação Ciência, obra do grande Niemeyer. Bom de zanga e de amuo, Hermano explodiu em protestos.
Como pintor, que muito admirei e respeitei, ele era genial. E adorava criticar. Uma das coisas mais gostosas da vida era conversar com o poeta. Uma conversa molhada de humor. Grande era sua versatilidade. Hermano nunca deu uma gargalhada. Seu humor era contido.
À noite, costumava ler os livros da Saraiva, lá no Manaíra Shopping, e pescar amigos para uma boa conversa. Estava informado de tudo. E foi lá no Manaíra que levou uma queda ao tropeçar com uns garotos que corriam, fazendo do Shopping uma perigosa pista.
Outra coisa sobre Hermano. Ele foi o primeiro artista plástico a figurar na edição inaugural de O Correio das Artes, vitorioso suplemento do jornal A União.
E, há pouco tempo, consciente do próximo partir, escreveu um livro de reflexões - “Anotações no tempo” - endereçado a alguns amigos. Seu livro é mais uma oportunidade de continuar a conversar com ele, sorrir com ele, pensar com ele. Hermano, não somente o pintor, o artista plástico, o homem que soube dignificar a vida, mas também um filósofo, que ele sempre foi.
Concluo a crônica com esta anotação de seu livro: “Foram tantos e tantos os que se foram, que chego a pensar, que é a morte quem alimenta vida”. O filósofo estava sempre presente no artista. São geniais essas “Anotações no Tempo”, que ele deixou para que lembrássemos sempre dele, vale a pena lê-las.