
Horrível, de repente, se ver sozinho no mundo. Mas a vida é feita de presenças e ausências. De sorriso e de choro. Ninguém se livra da lei. O homem que perdeu o filho não deu uma palavra. No rosto não escorria nenhuma lágrima. Mas tudo passa. A vida não deixa o choro por muito tempo. Depois vem a conformação. Depois, quase ninguém mais se lembra do choro, que é substituído pelo sorriso.
Mas há aqueles que sabem transformar sua saudade numa constante presença. E assim, sofrem menos. E agora estou me lembrando, como grande exemplo, dw Clemilde, viúva do nosso querido Afonso Pereira. Como ela soube ela transformar a sua saudade numa presença. Organizou um arquivo com um precioso acervo e o encheu de livros, documentos e lembranças do marido. Entra naquele recanto como se o amado ali estivesse. Lembro de que há muitos exemplos de heróicas viúvas que souberam conservar a memória do marido com muita resignação, com muita fé. Viúvos e viúvas.
Mas, aqui para nós, voltando à saudade, não há maior dor do que a dor de uma ausência.
Agora estou me lembrando de José Américo de Almeida, viúvo. Como sofreu com a morte de dona Alice, sua esposa. Sua solidão aumentou, a ponto de, certa vez, ele bradar: “Minha casa não tem mais diálogo”. Haverá maior desespero do que este?
O diálogo é tudo em nossa vida. Conquanto o monólogo também seja, o diálogo é vida intensa. Precisamos da companhia do outro. Precisamos desabafar as nossas mágoas.
A dor de uma ausência tem cheiro de morte. Ele disse, com uma enorme tristeza, num desabafo dramático, digno do grande homem que foi. “Na minha casa não há mais diálogo”. O diálogo é vida.
Eu já sofri a dor da ausência. Mas me comportei muito bem. Quem leu o meu primeiro livro A Dança do Tempo, verá que ele foi feito de lágrimas.