O cérebro, por exemplo, deixou de ser um órgão misterioso, desconhecido. Há muito tempo, foi publicado um livro que provocou uma verdadeira revolução no mundo científico. O autor falava de uma coisa ainda desconhecida, na época, pela ciência: as nossas glândulas endócrinas. Seu autor era Alexis Carrel e o livro se intitulava “O homem, esse desconhecido”.
Mas, há um território ainda estranho. Não se trata do corpo físico, de sua anatomia e fisiologia. O território que o homem não quis ainda conhecer e que foge dele como o “diabo da cruz” - expressão muito usada por alguns religiosos tradicionais - é a sua própria consciência.
Por incrível que pareça, a maioria do seres humanos faz tudo para não se encontrar com o seu mundo interior. Um mundo tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Enfrentar a consciência, cara a cara, exige muita coragem. Por que? Ora, porque o homem faz questão de esquecer os problemas fundamentais da existência: donde veio, o que está fazendo aqui no mundo e para onde vai. Poucos, muito poucos, refletem sobre essa realidade. A consciência o incomoda. A consciência lembra aquele morcego horroroso a que alude o nosso genial Augusto dos Anjos num de seus poemas: “E para muitos essa é a visão da consciência culpada, da consciência mordida pelo remorso, negra como um morcego”.
Daí a fuga de muitos para enfrentar tal realidade. E como fugir? Ora, não faltam meios para a evasão, embora temporários e que funcionam como meros paliativos. A verdade é que o homem, queira ou não, um dia, vai se defrontar consigo mesmo. Aí ele terá um céu ou um inferno. O céu da paz interior, do dever cumprido, a paz que advém de uma vida saudável, sem comprometimentos, sem culpas, sem medo”.
Muitos são os meios para fugir dessa realidade, desse confronto com a consciência. Vejamos alguns: o barulho. Quanto mais barulho, mais ele sufoca a voz interior, esquece aquela indagação que aludimos no começo da crônica.
Quer ver outra fuga? A bebida. A bebida que lhe dá aquela embriaguez, espécie de anestesia para as suas dores, os seus problemas, suas angústias e sofrimentos. Mais outra fuga? A festa. Na festa ninguém fala de coisas sérias. A festa é para a distração e não para a reflexão, até que venha aquela dramática interrogação do poeta: "E agora José?”. Outra modalidade de fuga: a TV, com suas novelas, seus palhaços e camelôs, tipo Faustão e Ratinho.
Segue-se o esporte, notadamente o futebol... Eis aí uma boa fuga. Todo mundo com a atenção voltada para a bola e os pés dos jogadores... Vejamos outra fuga: o trabalho excessivo, absorvente, obsessivo. Conclusão: fuga implica em medo, e o maior medo do homem é o confronto consigo mesmo, com quem um dia vai se encontrar, queira ou não queira...