M al comecei a ouvir o Concerto nº 1 de Tchaikovsky, para piano e orquestra, e os bem-te-vis começaram a cantar, lá fora, na rua, indiferent...

E viva a fé na vida!

Mal comecei a ouvir o Concerto nº 1 de Tchaikovsky, para piano e orquestra, e os bem-te-vis começaram a cantar, lá fora, na rua, indiferentes ao trânsito. Será que eles desejavam competir com o pianista do concerto, o talentoso chinês, Lang Lang?

Bem te vi! Eis aí uma ave alegre e otimista. Mas o sol também está otimista com o seu canto de luz. E estamos dando os primeiros passos, no ano que acabou de nascer. Afinal, adeus ao que era doce, a festa, as compras, as bebidas, as comidas, as gargalhadas, a confraternização, os abraços, as fofocas, as exibições.

Misturaram Jesus com Papai Noel, e restou a ressaca. Restou o amargo da vida... Mas, como diz o poema de Drummond, depois da festa, a pergunta é: “E agora, José?” Sim, a vida é uma festa. E na festa, a gente esquece muita coisa. Ah, o uísque escorrendo pela goela, o champagne trazendo euforia, tentando afogar mágoas e recalques. Não esquecer que na distração a gente esquece também a reflexão. E a reflexão é tudo na vida.

O concerto de Tchaikovsky está terminando e os bem-te-vis agora parecem calados. Apenas saudaram a manhã. Mas, o que você quer mais, cronista?

Um ano envelheceu e outro morreu. É a dança da vida. Outros dias virão – disse o poeta. Outras festas virão, a começar pelo Carnaval. Depois do Carnaval, a Semana Santa, que os peixes detestam, tanto quanto os perus odeiam o Natal. Eis a razão por que eles não são católicos.

Mas a vida é assim, cheia de altos e baixos. Lembrar que o Ano Novo começou tornando Paris amedrontada, traumatizada com o terrorismo dos fanáticos. E tudo por causa de Alá. Agora, por enquanto, não se pode dizer que Paris é uma festa, como definiu Hemingway. Paris, por enquanto, é uma guerra. A cidade virou um campo de tensões.

Acontece que a vida é mesmo uma incógnita. Ninguém sabe o que pode vem por aí. Mas não percamos a fé. A fé é tudo. Foi pela fé que Jesus levantou paralíticos, deu vista aos cegos, limpou leprosos, expulsou maus, espíritos, multiplicou peixes e pães, conversou com os chamados mortos, aplacou tempestades, transformou água em vinho e, descendo da cruz, conversou com uma ex-pecadora.

Que os passarinhos continuem saudando as manhãs, que Paris volte a ser a Cidade Luz, e que a Vida, todos os dias, morra nos crepúsculos e renasça nas alvoradas e no canto dos bem-te-vis.

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