S im, ele vivia na rua. Vivia como se não tivesse casa. É verdade que nasceu numa manjedoura, mas ninguém mora numa manjedoura. Nem mora, ne...

O sublime andarilho

Sim, ele vivia na rua. Vivia como se não tivesse casa. É verdade que nasceu numa manjedoura, mas ninguém mora numa manjedoura. Nem mora, nem nasce. Ele foi uma exceção. Nasceu entre animais, numa espécie de estábulo.

Saía cedo da casa e lá se ia para o trabalho da evangelização. Trabalho que não o remunerava. Ia a pé, de sandálias, debaixo de um calor de matar, no verão, ou de um frio de rachar, no inverno, pois Israel é assim.

Ele ia sempre acompanhado de seus doze apóstolos. Ignoro se iam conversando ou em silêncio. Acho que iam em silêncio, embora, de vez em quando, o Mestre parasse para fazer-lhe a seguinte pergunta, pergunta embaraçosa: “Que buscai?”. Silêncio total. Sim, buscar dinheiro, diversão, mulheres? Ninguém anda à toa. Ele fez tal pergunta para conscientizar ainda mais os apóstolos de sua missão. Pergunta como esta: o que você está fazendo aqui no mundo, de onde veio, e para onde vai?

Mas, e a casa do Mestre? Não se sabe. Não venha dizer que o Mestre morava na carpintaria do pai terreno, o pai a quem ele nunca fez alusão.

A jornada era, repito, debaixo de um sol escaldante ou sob o frio das noites de inverno. Se encontrassem uma casa para pedir água, ou se agasalhar, muito bem.

Mas Jesus só vivia na rua. E na rua, em companhia dos doze apóstolos, ia mostrando serviço, limpando leprosos, dando vista aos cegos, afasrando maus espíritos, levantando paralíticos, multiplicando pães e peixes, ensinando a verdade que liberta. Nunca ninguém viu Jesus repousando numa boa cama, no maior conforto. E ele disse, certa vez, que os pássaros tinhamm seus ninhos, as raposas seus covis, mas ele não tinha uma pedra para repousar a cabeça.

E começou cedo o trabalho da evangelização. Garoto de 12 anos, havia ido a uma festa de casamento em Jerusalém, e na hora de voltar perdeu-se dos pais. Depois de muita procura, foi encontrado debatendo com os doutores, no templo. Ora, vejam só... E a mãe achou de lhe passar um carão por ter escapulido, sem dizer nada a ela.

E a casa onde dormia, comia e descansava? Ignora-se. O sublime andarilho só vivia na rua ensinando, como já disse, a verdade que liberta. A verdade que está nas indagações: Por que estamos no mundo? Será que tudo termina no túmulo? Qual o sentido da vida? E foi de cima de um monte que ele proferiu o mais belo sermão da história da Humanidade. Cuja beleza e profunda sabedoria levou o iluminado líder indiano, Mahatma Gandhi, a afirmar. "Se toda a literatura ocidental se perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido”.

Saíam de madrugada e chegavam à noite. Exaustos, mas com a consciência tranquila. A consciência do dever cumprido. A consciência sem remorsos, que é Deus dentro de nós.

Sem casa, mas, certo dia, proclamou aos que o ouviam, que “na Casa do meu Pai há muitas moradas”. As moradas dos bilhões de planetas espalhados pelo Universo. E a nossa Terra é uma delas. Pensando bem, temos três casas: a do corpo físico, a do planeta que pisamos, a que nos serve de residência, a que Jesus não tinha...

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também