Marx dizia que “a religião é o ópio do povo”. Esqueceu-se do futebol. Talvez o maior dos ópios. E tudo graças aos pés. Mas, o que seria do esporte bretão se não fossem as mãos? Se não fossem os goleiros? E foram as mãos do goleiro de nossa seleção, Júlio Cesar, que acabamos de mandar o Chile de volta à Cordilheira dos Andes. Antes só se falava em Neymar, e esquecia-se Júlio Cesar.
Neste último jogo, fomos almoçar num restaurante, onde as pessoas estavam mais ocupadas com os olhos do que com as bocas. E eu com um medo danado de que a seleção perdesse, e que os milhões de torcedores se frustrassem. Não queria ver o país de Chico Xavier derrotado.
Muitas bocas, perto de mim, gritando de entusiasmo e eu ocupando a boca, não com gritos, mas com uma gostosa comida. Até que chegou o momento dramático dos pênaltis. Todo mundo com o coração na mão. Aí eu tive de parar a boca. Agora as atenções não estavam para Neymar, mas para Júlio Cesar, que com suas mãos iria classificar a Seleção.
O silêncio era profundo no restaurante. E deu-se o que todos queriam: o nosso Brasil estava classificado, graças às mãos que não chutam, mas que agarram.
Saímos do restaurante e vimos o delírio nas ruas. O Brasil mandara o Chile para casa, graças a Júlio César! Agora é lembrar a frase histórica: “Dai a Deus o que é de Deus e a Cesar o que é de Cesar”.
E lembrando o poeta, é preciso fazer o povo pensar e se divertir. Jesus dizia que nem só de pão vive o homem. Desta vez não foi o chute, mas o abraço. O abraço de Julio Cesar, um simpático rapaz, que os comentaristas, a começar por Galvão Bueno nem falavam.
Que nos próximos jogos, Neymar resolva a situação. Mais respeito para o coração verde-amarelo. E vamos chutar a tristeza e abraçar a alegria.