E se você tem um saudável hábito de conservar na parede as fotos dos que se foram, muito bem. Mas são tão poucos os que conservam esse hábito, os que não mataram em si a saudade dos ausentes. Que apenas costumam, no Dia dos Mortos, ir ao cemitério para acender uma vela no túmulo dos seus familiares e amigos. Ainda pensam que os seus mortos estão ali, debaixo da terra, aguardando a sineta do Juízo Final, quando será decidido o seu destino, isto é, se vão para o céu, para o inferno ou purgatório. E não me digam que não é assim que muitos pensam...
Mas, como eu ia dizendo, a passagem de um ano mexe um pouco com a gente. Parece que o tempo está nos perguntando, o que fizeste de tua vida? Continuas com os mesmos vícios, os mesmos erros? Só os animais ficam indiferentes à passagem de um novo ano. Mas o homem, este animal que pensa, que reflete, que indaga.
Afinal, o que estamos fazendo no mundo? Que pergunta para mexer com a gente, hein?... Aliás, toda pergunta leva a uma reflexão. E o grande Sócrates perturbou muita gente com as suas indagações.
Um novo ano está para chegar. Quais são nossos planos? Será que vamos repetir os mesmos erros? Que tal uma fugidinha da vida e nos recolhermos um pouco dentro de nossa interioridade? Que tal uma conversa íntima?
Mas para isso é necessário certa coragem e ao mesmo tempo humildade. Afinal, a vida tem um sentido? Por que estamos no mundo? Se você despertasse , dentro de um navio, qual seria sua primeira pergunta? Evidente que interpelaria: para onde estão me levando, o que estou fazendo, aqui
Vamos, portanto, assistir à passagem silenciosa do novo ano e procurar nos renovar, interiormente, porquanto você é um animal, mas racional. E não esqueçamos: toda passagem de ano tem um cheiro de saudade, de adeus, de mistério, o insondável mistério: por que estamos neste mundo?...