Sim, estou me referindo ao meu irmão e quase pai, Eudes Barros. Irmão mais velho do primeiro matrimônio, pois minha mãe casou-se duas vezes. Somos filhos de Alagoa Nova, cidade que Eudes qualificou com muita razão de “sítio público de mangueiras”.
Mas vamos ao poeta, ao historiador, ao jornalista, ao escritor. Deixou dois livros de poemas, ”Fontes e Paús” e “Cânticos da Terra Jovem”. Ainda criança, numa manhã de inverno, ele viu um pingo d'água caindo de uma planta e gritou chamando a mãe. Quando esta chegou, ele foi logo dizendo, no seu entusiasmo de 4 anos: “olhe uma lágrima do céu caindo daquela árvore”. Era a sua primeira manifestação lírica. A mãe não quis acreditar no que via.
E eis que sai seu primeiro livro de poesia para surpresa de muitos. Mas depois, o poeta já maduro, publica “Cânticos da Terra Jovem”, em que se encontra o poema que se tornou famoso a ponto de ser declamado na BBC de Londres. Trata-se de “Jesus Brasileiro”. E dizem que Eudes escreveu o famoso poema para amenizar a ira do Arcebispo Dom Adauto, que não gostou de um artigo em que ele cometera o “pecado” de qualificar a santa comunhão de “antropofagia mística”.
Eudes foi jornalista a vida toda. Jornalista polêmico. Fundou um jornal denominado “A Rua”, que ficava na Rua Duque de Caxias. O jornal era quase todo feito por ele. Não usava a máquina de escrever, mas a pena. Não chegou a conhecer o computador...
E foi neste jornal que ele escreveu por muito tempo. Temperamento polêmico, o que fez arranjar alguns inimigos, Eudes também foi um grande lírico. E n'A União, ele manteve, por muito tempo uma coluna que assinava com o pseudômino “Til”.
Causaram sucesso os seus livros de história, inclusive o romance “Dezessete” e Eles sonharam com a liberdade. Eudes Barros é hoje patrono de uma cadeira no nosso Instituto Histórico,
Ele foi um solteirão inveterado. Mas, um dia, pensou em pedir a mão de uma moça da sociedade. E meu pai, homem sério, meio constrangido, foi ser o intermediário desse pedido. O noivado não durou um mês... E terminou a vida solteiro.
Seu ídolo foi o jornalista Carlos Lacerda. Ambos se correspondiam. Manteve ligeira polêmica com o historiador e imortal da nossa Academia, José Octávio, cujo tema era o marxismo. Parece que este levou a melhor.
Eudes Barros viveu o resto de sua vida no Rio de Janeiro. Era colaborador efetivo do nosso Instituto Histórico. Certa vez, chegou para mim, e disse: “vou levar você ao Recife. Você precisa conhecer uma uma grande metrópole”. Eu era menino ainda. Fui, e fiquei encantado com a cidade, principalmente com os seus bondes.
Mas voltando ao seu “Jesus Brasileiro”, trata-se um poema que mereceria estar nas nossas escolas primarias. Um poema que termina dizendo que “Jesus, aqui, não morreu numa cruz de madeira, e sim numa cruz de estrelas”.
Ele me tratava como um filho. Muito me estimulou. Fico, aqui, não com os olhos cheios d'água, mas com uma grande saudade.