Ah, essa chuva que me chega agora, pois o sol, faz tempo, não queria deixá-la vir. A gente espiava pra cima, e nada de nuvem. Só sol. Sol de queimar a pele, de fazer calor, de secar as plantas, matar o gado. E minha Alaurinda escondendo a pele, que não foi feita para o calor. Violinista, ela de sol só suporta o da pauta, nas suas partituras.
E o sertanejo, com os olhos pra cima, pedindo a Deus água, muita água, que tudo está seco. Açudes virando poças... E tanta gente sem um pingo (já que estamos falando em água) para matar a sede.
Mas agora pela manhã choveu. Para que tanta lamentação, cronista? É verdade. Tudo passa, tudo vai, tudo volta, tudo se transforma, tudo se renova, tudo renasce. As lágrimas viram sorrisos, esta é a grande didática da vida. Para isso precisamos de muita compreensão. E compreender é saber as causas, é se colocar no lugar do outro. Portanto, nunca julgue. Esta a maior lição da vida.
A chuva estava molhando as plantas do nosso jardim. Será que ela apareceu atendendo ao cronista, que está ansioso para ver o céu cinzento, o chão úmido, o cheiro de terra molhada no ar, e basta de egoísmo solar.
A verdade é que Tudo passa mesmo na vida, tudo termina em saudade. A saudade é o passado que volta.
E com a chuva descendo, com a chuva molhando, eu sai para ver a sua chegada, aqui em Tambaú, e fui bater no planalto do Cabo Branco. Como está bonito aquilo! Estação Ciência, a mão do homem e a mão de Deus se encontrando. E como é bonito avistar as enseadas do Cabo Branco e Tambaú tomando banho de chuva. E a estátua de Iemanjá, a Rainha do Mar, toda vestida de azul, entre coqueiros. Acho que ela ficou muito escondida. Vamos irmãos umbandistas, descobrir aquela para quem se jogam flores no mar. Jogar flores no mar... Haverá coisa mais poética, mais bonita?
Volto à casa e vejo, novamente, o sol iluminando. A chuva foi de novo embora. Chuva de verão. Mas tudo passa. Nada se eterniza, exceto a saudade...