Sensibilizado e muito honrado, eis que, para minha agradável surpresa, encontro na caixa postal de nossa casa, o novo livro, atenciosamente autografado, do jornalista, compositor e escritor Walter Galvão, cujo título me intrigou.
Afinal o que vem a ser Silabário? Evidente que a palavra vem de sílaba, que nada mais é do que um tijolo na construção da frase. Mas, segundo buscas mais apuradas, entendemos que silabário pode ser cartilha, que, no caso de Galvão, é uma “cartilha” de poesia em prosa.
O livro, a princípio, me assustou, mas depois fui tentando decifrá-lo. Sim, o livro não pede uma exegese, mas uma decifração. Não é uma leitura fácil. Inteligência, perspicácia, humor e cultura ressaltam de seu rico texto. O grande crítico Agripino Grieco, referindo-se ao cronista Genolino Amado, costumava dizer que ele era “inteligente de fazer medo”. E a frase agora me lembra Galvão.
Mas vamos ao livro Silabário. É uma coleção de poemas, que nos levam a muitas reflexões. De seu texto emergem frases de uma perspicácia admirável como estas: “O orgasmo é a geometria abstrata dos ângulos de prazer concreto”. Outra: “A tristeza não é solúvel na água”; “A nostalgia é a saudade com preguiça”; Por fim, como amostra do senso de humor do autor, este texto: “Se Deus fosse mulher, as noites teriam sabores, os dias teriam mais fé. Um mundo com outras cores. Mas será que Ele não é?”
Muitas de suas reflexões são tocadas de um certo ceticismo. Galvão é dotado de uma extraordinária e apurada observação. Um homem que sabe pensar e é dono de uma forte personalidade. Daí, vez por outra, se esconder nas palavras. Nos seus “poemas-reflexões”.
“Silabário” é um livro que nos obriga a pensar. Ao lê-lo, vez por outra, somos inclinados a parar. Fazer uma pausa para refletir, pois, em poucas palavras o autor quer nos dizer muita coisa.
Gostaria de terminar este meu texto com esta bela confissão do autor: “Ouvi um sussurro de eternidade neste exato instante, o som de todos os tempos num só cântico, uma balada contra o esquecimento”. Isto, meu caro leitor, é poesia em alto estilo!