Tanto barulho, tanta bebedeira, tanta festa, tanta comida, tanta zoada, tantos fogos, só porque mais uma folhinha do calendário é virada. Esquecemos que o tempo é uno, uno e silencioso, silencioso e imperceptível. Ouçamos o tique taque do relógio, olhemos os dois ponteiros, marcando os segundos, os minutos, as horas. Dir-se-ia a dança do tempo. Segundos que viram minutos, minutos que viram horas, horas que viram semanas, semanas que viram meses, meses em séculos, séculos em milênios...
O que é, enfim, a passagem de um ano? Uma gota no oceano. Uma poeira nas galáxias. E a gente com as nossas vaidades, ambições, ilusões.
Mas, a grande lição de uma passagem de ano é que tudo passa. Não existe marcha à ré do tempo. Ele não sabe voltar. Ele é como o solo. Se nele nada plantamos, não existe colheita alguma. Aproveitar o tempo, eis a nossa grande responsabilidade. E, sem dúvida, mais na frente virá aquela inquietante pergunta: o que fizeste do tempo, o que fizeste da terra.
E vem outra indagação: o que fizeste do teu viver, a quem irás dar conta do tempo que te foi dado? Se não há responsabilidade, qual o sentido da vida?
Nasceste num corpo de carne, num corpo maravilhoso que nenhum homem será capaz de construi-lo. E quem construiu tão magnífica máquina, uma maquina que pensa, que imagina, que deseja, que inventa, que ama, que questiona, que investiga, que descobre, que tem remorsos e arrependimentos, que sofre.
O computador é extraordinário, mas não tem coração, logo não ama. Ora, veja este mosquito... O homem, algum dia, fará um deles, apesar de sua tecnologia?
Festejamos a passagem do ano, à beira-mar, em companhia de alguns familiares e vimos fogos de artifício iluminando a noite. Tantas alegrias, tantas esperanças, tantos abraços e beijos, tantos votos de felicidade! E esquecemos nossos propósitos. Será que vamos continuar os mesmos, nenhuma reflexão, nenhuma transformação interior? E o tempo, o que fizemos e o que vamos fazer dele? Eis a inquietante pergunta...