Ele está parado, mas ansioso para sair da rotina e encontrar-se com a sua grande aventura. E ele não foi feito para o chão. Está doido para virar pássaro, deslizar suavemente nas nuvens, ficar perto das estrelas...
Pouco mais, chegarão os passageiros, com suas bagagens, com os seus medos, com suas preocupações, suas vaidades, com suas ansiedades.
O leitor já sacou quem é o personagem da crônica? Sim, refiro-me à aeronave, esse pássaro artificial que deseja imitar as aves criadas por Deus, que não levam nada consigo. Mas a nave aérea está carregada de gente, de todo tipo e idade. E chegou o momento da subida. Primeiro, a chamada rolagem, quando a aeronave vai correndo pela pista, doida para o grande e dramático salto. E ei-lo superando as nuvens, longe da rotina do chão, perto da rotina do sonho, solto na sua verticalidade, mangando das aves. Vitorioso na chamada decolagem, que o português chama muito apropriadamente de descolagem.
Tudo no mundo ensina alguma coisa. O avião ensina muitas coisas. A primeira lição é a da aventura. O carro só conhece a estrada, o chão, o navio o mar, o trem não sai dos trilhos, mas os pássaros, assim como as aeronaves, se aventuram no espaço.
E o momento mais importante, diríamos dramático, é quando ele resolve descer, varar as nuvens em direção à terra, rever as coisas lá embaixo, praticar a dramática aterrissagem, que o português denomina aterragem... O momento é dramático. Muitos fingem dormir, outros rezam, fazem o sinal da cruz. E quando o pássaro pousa no chão suavemente... Quantas palmas! Nada como voltar à terra firme, se bem que esta esteja rodeada de muito mais perigos...