Quando eu era adolescente, até que gostava da Festa das Neves, cuja parte profana não atrapalhava a parte religiosa, razão maior do tradicional acontecimento religioso.
Eu morava na rua Nova, hoje General Osório, e a festa vinha alegrar todos os seus moradores. Minha alegria começava com o batuque na madeira anunciando a construção de pavilhões.
E a festa era bonita mesmo. Muita disciplina, muito bom gosto, muita segurança. E quantos casamentos começaram ali...
A parte profana era chamada a bagaceira, onde o povo ia beber, comer e se divertir, esquecido de que o evento era primordialmente religioso, um culto à Nossa Senhora das Neves, a padroeira da terceira capital mais antiga do país.
Mas o progresso, aos poucos, foi avançando para a orla marítima. Tambaú era e continua sendo a grande atração. O centro da capital foi mudando de lugar. Vieram as edificações gigantes, vieram os congestionamentos, vieram os assaltos, a falta de segurança, a poluição sonora. Acabaram-se os quintais, o ecológico foi agredido. E a tradicional festa já não dispunha de espaço, porquanto a população crescera. A catedral ficou completamente esquecida. O comércio preponderou sobre tudo. A Festa das Neves atrapalhou o trânsito, terminou produzindo muito barulho para a vizinhança, e assim por diante. O objetivo maior quase que ficou esquecido. Preponderou o profano em detrimento do religioso, e ninguém para expulsar os “vendilhões do templo”
Mas pouca gente deu por essa transformação. E se deu, calou-se. E eis que surge uma voz de quem não tem papa na língua. Um homem de coragem e que viu na citada festa puro mercantilismo, puro mundanismo, nada de religiosidade. E que ficou sensibilizado com os problemas urbanos que a festa agora produz. Este homem não é outro senão o nosso Arcebispo Dom Aldo, que teve a coragem de vir a público, lançar o seu protesto contra o desvirtuamento a que chegou a Festa. Ele, que desde que aqui chegou, demonstrou força e atitude perante costumes equivocados da cidade, que passou a adotar como sua.
Parabéns, meu Arcebispo. Um homem que prefere viver com a consciência, do que com a conveniência.