Eis aí, leitor, três coisas que lembram muito a minha infância. Lembranças gustativas. A água curava, o vinho alegrava e a bolacha se dissolvia na boca, deixando a gente com gosto de quero mais. Mais ainda: a água ainda continua sendo vendida, o vinho e a bolacha ficaram apenas no nosso paladar. Havia ainda outras lembranças, que insistem em trazer o passado para o presente, enchendo a gente de saudade.
Vamos à água, que curava tudo que era de ferimento. Bastava um ligeiro corte no dedo e lá vinha a recomendação: “bote Água Rabelo”. Tiro e queda, num instante o corte desaparecia. Rabelo era o nome de seu fabricante, que, se não me engano, era farmacêutico. E a fábrica ficava lá na Rua da Areia. Ele era parente da cronista e imortal Adhylla Rabelo, mãe dos jornalistas Gerardo e Neno Rabello. Este último, embora sem a visão, vê mais longe do que muita gente.
Mas continuemos mexendo com a memória. O vinho era chamado “Celeste” e até uma criança podia bebê-lo, pois quase não tinha álcool. Em toda casa quase não faltava o vinho, que tinha gosto de beijo. Daí o poeta e historiador paraibano Eudes Barros, meu irmão por parte de mãe, dizer em verso: “O vinho Celeste tem sabor do beijo que tu me deste”.
A verdade é que em nenhuma casa faltavam a Água Rabelo, o Vinho Celeste e a bolacha Yayá. Esta, gostosíssima. E com manteiga, então... A bolacha marcava presença em todas as ceias. E o seu fabricante escolheu para sua propaganda, o seguinte e sugestivo slogan: “É isto, bolacha só Yayá”.
Havia outras gostosuras para o nosso paladar, a exemplo do “doce americano”, que era vendido na rua. Só em me lembrar dele já começo a sentir água na boca. Havia o cavaco chinês, o doce Cumaru, o rolete de cana. Ah, leitor, basta de salivação.
Outras coisas que desapareceram de nosso cotidiano: os pregões. Pregões de jornais, pregões de vassoura, pregões de fígado, pregões de pitomba. E o vendedor ainda gritava: “chora menino para comprar pitomba”. E pregoeiro gritava “figo”, amedrontando as crianças. Diziam que o homem vinha tirar o fígado do menino desobediente.
Mas o gostosa mesmo era a bolacha Yayá, que a gente comia com manteiga Turvo ou Garça... E viva a memória gustativa!