Começo dando viva à imaginação! Que seria do homem sem ela. A imaginação é uma das maiores dádivas que Deus nos deu. Graças a ela nada se perde. Tudo fica na nossa cabeça. Se você quiser trazer uma pessoa para junto de você, sem ser fisicamente, basta recorrer à imaginação. Bem disse o ditado que recordar é viver, e recordação implica em imaginação. Se eu quiser ver Paris, basta trazê-la à imaginação. E somos capazes de sentir o cheiro gostoso de uma baguete fresquinha.
A imaginação é do homem. E é graças a ela que estou trazendo, agora, à minha presença, uma pessoa muito querida, que não está mais aqui no mundo, todavia, continua viva na minha imaginação e na minha saudade.
Esta pessoa muito querida, que tanto admirei e com quem muito aprendi, não é outro senão o desembargador Paulo Bezerril, um respeitável nome do nosso Tribunal de Justiça. Estou a vê-lo, baixinho, discreto, mas sempre elegante na sua postura. E que simplicidade! A toga não o envaideceu.
Mas, sua grande paixão não eram os acórdãos do Tribunal, que ele prolatava com tanta segurança e conhecimento. A sua grande paixão eram os acordes da música. Para comprovar isto, basta dizer que o desembargador Paulo Bezerril era um excelente flautista. E, aqui para nós, ninguém sabia disso. Ele tocava aquele instrumento em sua casa, para esquecer os prosaicos acórdãos do Tribunal.
Até que um dia... Aconteceu o inesperado. Quando a Orquestra Sinfônica da Paraíba foi fundada, numa certa noite, num prédio lá da Rua Direita, o nosso Bezerril lá compareceu para prestigiar o acontecimento. E quando a Sinfônica estreou, lá estava Paulo Bezerril como um dos seus músicos. Isto fez com que eu o admirasse ainda mais. O desembargador flautista soube descer a escada do nosso Tribunal para prestigiar com sua presença o grande acontecimento cultural.
Por isso e outras coisas, eu muito aprendi com o meu desembargador, que tinha alma de sonhador, de artista, de homem muito sensível. Certa vez, ele me confessou: Carlos, eu admiro três belezas na vida, que começam com “M”: música, mar e mulher.
Paulo Bezerril, como o admirei! E como, vez por outra, ele entra na minha saudosa imaginação...