Todo mundo pode dormir no avião, menos o comandante, que a gente só vê quando ele passa, no aeroporto, elegante na sua farda azul escura,...

O comandante do avião

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Todo mundo pode dormir no avião, menos o comandante, que a gente só vê quando ele passa, no aeroporto, elegante na sua farda azul escura, com várias fitas douradas no braço e acompanhado das jovens comissárias de bordo. Em geral vão todos sorrindo como se não fossem para o trabalho, lá em cima. Trabalho nada mole, mas muito duro. Elas servindo e atendendo os passageiros e ele trancado na sua cabine, que a gente não vê, sozinho, com o copiloto, atropelando nuvens, indiferente às estrelas do céu e atento a tudo que ocorre no painel e em torno da aeronave, seu instrumento de trabalho.

A gente, como disse acima, só vê o comandante quando ele passa pela fila de passageiros, em direção à aeronave. Depois, com exceção dos seus auxiliares, o grande personagem da viagem aérea jamais é lembrado pelos senhores passageiros. Só quando o avião começa a balançar, quando se choca com um nevoeiro, quando cai no vácuo, é que as pessoas se lembram do comandante. E vem aquele medo que muitos procuram esconder. O medo do avião cair, seja em terra, seja em mar. E há sempre aquelas insistentes advertências iniciais orientando os senhores viajantes como devem se comportar, caso aeronave caia no mar. E quase ninguém presta atenção àquilo.

Eu, que sou um observador do fenômeno humano, com a devida licença de Teilhard de Chardin, estou sempre atento ao comportamento das pessoas, todas elas se identificando através de suas atitudes. Há os que dormem, os que lêem, os que vêem os filmes no iPad ou no video colado atrás das poltronas, há os que digitam no seu notebook, e há os que ficam de olhos abertos, atentos a tudo que ocorre naquele tubarão de alumínio, solto na imensidão...

Há quem tenha um medo danado de avião. Dizem que o famoso Niemeyer não tem medo. Tem horror. Tanto é assim que, apesar de de seus projetos, jamais projetou sair da horizontal para a vertical. E curioso é que o grande arquiteto adora ver de longe a dança das nuvens, que inspirou muitos de seus projetos.

Já disse que tenho inveja de dois profissionais: o maestro de uma Orquestra Sinfônica e o comandante de avião.

E que dizer daquele silêncio dos passageiros, quando o avião está descendo para a aterrissagem, que o português denomina de aterragem? É um momento meio dramático, e quando a operação é bem sucedida, costuma-se até bater palmas para aquele grande profissional, que nessa hora volta a ser lembrado...

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