Eis aí duas coisas importantes em nossa vida. O apetite não é só para a comida. Lembrar que a vida é um alimento precioso. Feliz, pois, aquele que não é inapetente para a vida. Mas lembrar, desde já, que apetite não deve se confundir com gula. Gula é o abuso do apetite.
Ah, como é bom a gente estar com apetite diante da mesa cheia de bons pratos! E a sabedoria divina criou a saliva para que o alimento seja bem digerido. Aí entra a participação da água, que sem ela não há vida.
Triste aquele que diz: “estou sem apetite”. Apetite não só para a comida, como para a própria vida. Estão aí as crianças, sempre com água na boca para existência, que lhe surge como um prato delicioso. Vejam como a criança sorri, corre, pula, grita, diante do fenômeno da existência. E não sei a razão dessa corrida, se ela tem tanto tempo para viver...
Existe, também, o apetite para o conhecimento, que é a curiosidade. Quem não tem curiosidade, não aprende. Não satisfaz a fome da ignorância.
Deus dotou o mundo de muitas belezas que o homem ainda não soube aproveitar. Daí a sua inapetência, o seu pessimismo, o seu mau humor, a sua depressão.
As plantas nunca estão com inapetência. Equilibradas nas raízes, elas procuram logo o estrume, a luz, a água para matar a sua ânsia de viver, o seu apetite para a vida.
A vida é isso, leitor. Nada de inapetência, nada de enjoo, nada de cara amuada, nada de mau humor, nada de dizer: “tudo bom e nada presta”. Que estupidez pessimista!
Você já viu a cara de um homem sem apetite diante da comida? Chega a dar dó.
As crianças têm muito o que nos ensinar. Ensinam apetite para a vida, ensinam alegria onde há tristeza, ensinam curiosidade onde há saciedade.
E que dizer do apetite para a leitura? Este é um bem aventurado. E com que ganância eu agarro este livro! O livro, que seria deste iPad sem ele?
Viver, leitor, é, em suma, ter apetite. Apetite para as muitas coisas deste mundo, do qual somos transitórios passageiros...