Daí eu ter muita pena dos que viajam sem ler um livro. Gosto de ver uma pessoa lendo. Lá no Havaí, vi muitos turistas e banhistas lendo na praia, deitados na areia, ouvindo o mar e sentindo o afago da brisa. Parecia até que o mar queria ler, pois chegava perto dos leitores, com suas espumas.
Mas ler mesmo em viagem, não há local melhor do que no metrô, mesmo que esteja cheio. E que dizer do trem? Eis um ótimo espaço para a leitura, sobretudo quando está vazio.
Estou me lembrando agora de Chamonix, um dos lugares mais frios que fui na vida. Cercado de gigantescas montanhas geladas, só em olhá-las a gente sente o gelo entrando pelo corpo. Pois bem, foi nessa cidade que eu, na praça, quase li um livro todo. Preferi ler a subir pelo teleférico até às montanhas, como fizeram os meus companheiros de viagem.
Também é gostoso ler dentro de um avião, mesmo, vez por outra, sendo incomodado com aquele carrinho cheio de comida e bebida, trazido pelos comissários de bordo.
E vi, certa vez, uma senhora com os olhos voltados para as páginas de um livro, completamente alheia ao que se passava ao seu redor. Com a leitura, a viagem passa rápida.
Lendo a gente viaja duplamente. Muitas vezes, pelas estradas vazias da Austrália, com meu filho na direção do carro, deixei de contemplar a bela paisagem ao redor e ouvi Germano dizer: "deixe o livro para depois, veja o que você está perdendo". E as belas montanhas ao longe, gigantescas e silenciosas, dando lição de transcendência.
Quando estou me preparando para viajar, a primeira pergunta da minha Alaurinda, quando vai arrumar as malas, é: "quantos livros pretende levar?" Vou à biblioteca, e fico sofrendo a difícil escolha. E parece que todos os livros querem me acompanhar no seu silencioso grito: "me leve. "
A verdade, leitor, é que ler viajando é viajar duplamente.