Estava Pedro pescando com os companheiros, no tranquilo mar da Galiléia, quando Jesus surgiu convidando-os para o apostolado evangélico. Dia...

Pescaria e terapia

Estava Pedro pescando com os companheiros, no tranquilo mar da Galiléia, quando Jesus surgiu convidando-os para o apostolado evangélico. Diante daquela majestosa beleza, muito acima do mar, eles não titubearam. Largaram seu precioso instrumento de trabalho, a rede, e seguiram o Mestre, que estava lindo com os seus cabelos e o seu manto.

Agora, segundo informou Jesus, eles seriam, doravante, pescadores de pessoas. O Mestre, caminhando na areia, em companhia de seus primeiros apóstolos. Eis aí um quadro que eu gostaria de ter assistido. E a rede de pescar, eles deixaram na praia? O Evangelho não entra em pormenores.

Mas que força foi aquela que fez os humildes pescadores deixarem o trabalho e acompanhar um desconhecido?

Pescar... Haverá trabalho mais terapêutico do que esse? Eu nunca vi em Jacumã, Coqueirinho ou Praia do Amor, onde costumo caminhar, os pescadores angustiados, aborrecidos com a pescaria. Estão sempre tranqüilos. Tranquilos e calados. A pescaria é um trabalho feito de silêncio. E silêncio leva à meditação. Ninguém pensa no barulho.

Um tempo desse eu comprei um anzol para uma pequena pescaria. Mas até agora aquele instrumento de trabalho está, ali, escondido atrás de uma porta. Ninguém acreditou no meu sucesso. Esquecem que o meu objetivo maior não é pescar peixes, mas esvaziar a mente para uma profunda introspecção. Pescando numa praia tranqüila, longe dos automóveis e das televisões, é a melhor das terapias. Deveria haver um maior incentivo para a pesca amadora. Tenho certeza que a presidente Dilma sairia outra, depois de uma pescaria, mesmo que não trouxesse no seu anzol uma simples piaba.

Todo mundo deveria entregar-se ao exercício da pescaria, sobretudo os estressados executivos. Políticos, ministros, desembargadores deviam, vez por outra, sobretudo nos dias de semana, entregar-se a terapia da pescaria. Até o Papa – por que não? - deveria pegar num molinete. O diabo é que em Roma não há mar...

Ah, o mar! Bem-aventurada a cidade que o tem. Ah, como tenho pena de São Paulo, Campina Grande, Paris, Londres, Berlim... Mas o verdadeiro mar é aquele que tem areia branca, tão limpa que lembra um papel. E foi nesse papel de areia que Anchieta escreveu aqueles poemas à Virgem.

Mar sem areia eu vi muito lá fora, nos países do primeiro mundo. Mar cheio de pedras, seixos e lama.

E viva o mar de Tambaú. Tenho muita pena do almirante Tamandaré, em cujo busto, ele só ouve zoada e dá as costas para o mar. Como é que ele pode divisar os navios inimigos?

Vamos cronista, deixe este computador e pegue um anzol ou um molinete e vá pescar, mesmo que não traga nada. Valerá a terapia.

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