Compreender! Eis uma das coisas mais belas da vida. Onde houver compreensão, haverá paz, concórdia, entendimento, felicidade. Mas a compreensão exige maturidade, experiência, sabedoria. O adulto compreende a criança. O sábio compreende o ignorante, e assim por diante.
Afinal, o que vem a ser compreensão? Ora, compreensão é o conhecimento das causas. Só isto. Quando você conhece as causas sua atitude é outra.
Ninguém conheceu mais do que Jesus, que mesmo na cruz, cravejado nos pés e na cabeça, o suor e o sangue correndo juntos, a coroa de espinho ensangüentando o rosto, e assim mesmo perdoou, dizendo: "Pai, perdoa-lhes por que eles não sabem o que fazem". É que o povo nem sempre sabe o que faz.
Jesus perdoou a multidão iludida, influenciada pelos fariseus hipócritas, verdadeiros mausoléus caiados, mas podres por dentro.
Bem aventurado é aquele que compreende, e compreendendo perdoa. Jesus nos recomendou a amar os nossos inimigos. O amar aí pode ser substituído pelo compreender. Quem compreende está numa posição muito elevada e olha o que está embaixo com profunda comiseração ou compaixão. A gente tem pena daqueles que estão abaixo de nós, nas mais diversas situações da vida.
Compreender é o primeiro passo para a compaixão. Mas a compaixão só se completa pela ação. Compreender e se compadecer não é tudo. Muita desgraça acontece neste mundo devido à incompreensão. Compreensão na família, na rua, na escola, no trabalho. Não esqueçamos que cada um tem a sua singularidade, a sua maneira de ser e de agir. Respeitemos a diversidade alheia. E a vida é interessante devido às diferenças. Não queiramos que o outro seja como nós. A beleza está nos contrastes. Fora disso, tudo cai na monotonia. É pela compreensão que aceitamos as disparidades. Amar é compreender.
Estou, agora mesmo, me lembrando do velho, sábio e inesquecível Sócrates. Casou-se com uma mulher ignorante, muito longe de sua filosofia, mas que cozinhava a sua comida, varria a casa, ia ao mercado, embora não conhecesse patavina do que o marido pregava na praça pública, Xantipa, não compreendeu Sócrates, mas este a compreendeu, graças à sua cultura, sua compreensão, sua sabedoria.
Sócrates tinha muito humor e o humor é fruto da sabedoria. Vida sem humor, vida sem amor.
Zangada com o marido, que não cumpria os deveres domésticos, Xantipa, certa vez não agüentou e jogou-lhe um balde d'água.
Todo molhado e sorrindo, o filósofo apenas disse: "depois da trovoada vem a chuva".
É isto. Sabedoria gera compreensão, compreensão gera humor, e o humor é combustível para a paz.