Fazia uma bela manhã de sol, bonita de doer. E lá ia eu caminhando, avistando o mar, faiscante de luz. Atrás de mim, vinha uma senhora conversando com uma amiga. Ainda quis apressar os passos para não ouvir o diálogo, mas a narrativa logo me prendeu a atenção.
Referia-se a uma outra conhecida. A mulher não falava nem de bem, nem de mal. Apenas lamentava o que aconteceu com a ausente. Informou que o sonho da moça era conseguir o doutorado na universidade, para depois casar. Doutorado em Química Industrial. Acontece que, como o coração tem razões que a própria razão desconhece, ela terminou se apaixonando por um rapaz. Namorou com ele, noivou e terminou na igreja.
Casada, vieram os problemas do casamento e o doutorado teve que esperar. O tempo foi passando, e eis que ficou grávida. As coisas, então, foram se complicando. Menino, como se sabe, dá muito trabalho. Após alguns anos, eis que surge o segundo filho. O aperreio se agravou. Dois filhos... não é brincadeira!
Iam as coisas nesse pé quando começaram umas desinteligências matrimoniais. E o resultado foi a separação. Ela ficou com os dois filhos e sem o marido. E nada do doutorado. Acontece que surgiu um jovem simpático em sua vida, com quem terminou se casando, e que não fez questão de acolher os dois meninos. E logo surge o terceiro filho, mais adiante o quarto.
Agora ela estava com quatro filhos para cuidar. Começou a se frustrar. O doutorado ia ficando ainda mais distante. Isto a deprimia e angustiava. Afinal não há maior desgraça do que frustração. Os quatro meninos cresciam e com eles cresciam os problemas.
Foi ao espelho e este, com a sua sinceridade, informou que ela estava criando umas rugas, o que a entristeceu bastante. Ainda pensou em fazer uma plástica, mas cadê dinheiro? O marido já não era o mesmo. Aí veio a desconfiança de que ele estava se interessando por outras mulheres... O certo é que o homem mudara.
Com quatro filhos para criar, um doutorado para iniciar, o jeito foi apelar para as irmãs solteiras. Que cuidassem dos meninos, enquanto ela correria atrás do ambicionado diploma.
Não sei o resto da história, pois chegou uma outra amiga das duas e atrapalhou a narração da mulher.
Fiquei com pena da frustrada senhora. Será que ela irá mesmo obter o sonhado diploma? E depois de obtê-lo, haverá tempo para arranjar um emprego? E os quatro filhos?
Ah! Por que diabo fiquei a ouvir a narração da mulher? Cronista bisbilhoteiro! Devia ter apressado o passo? Ainda quis voltar para saber o desfecho da história, mas as mulheres já haviam desaparecido. Agora o frustrado sou eu. Aliás, eu e você, leitor, pois estou certo de que também ficou ansioso para saber o final da conversa.