Na vida quanto mais interesse você tiver, melhor. Portanto, nada de se fixar apenas em uma coisa. Nada de música de uma nota só. A multiplicidade de interesses dá mais beleza à vida. Há pessoas que só se ocupam e se preocupam com determinado ramo do saber e esquecem que a vida exige uma visão holística, isto é, uma visão de totalidade.
O cientista Darwin foi vítima da unilateralidade, quando se dedicou de corpo e alma às pesquisas que o levaram a escrever o revolucionário livro A Evolução das Espécies. Seus olhos deixaram, por algum tempo, de contemplar o dinâmico e emocionante espetáculo da vida, para se circunscrever ao limitado espaço de seu laboratório de pesquisador. E o resultado foi que ele começou a perder a sensibilidade para as outras coisas. Já não se comovia mais com a música, com a pintura. Não ouvia mais as músicas de Bach, nem lia mais as poesias de Shakespeare. Na sua cabeça só havia ciência, ciência, ciência. E chegou a confessar, com certa amargura: "Meu espírito parece ter-se convertido numa máquina de extrair leis". Por fim, desabafou: "Se eu tivesse de viver novamente minha vida, tomaria como norma ler, ao menos uma vez por semana, algo de poesia, e ouvir música".
A visão unilateral leva ao fanatismo. Passar o tempo todo falando apenas em religião é esquecer o dinâmico e móvel espetáculo da vida. É limitar seus horizontes mentais.
Tudo na vida deve despertar seu interesse. Não fique apenas falando sobre política, sobre esporte, sobre moda, sobre culinária, sobre literatura, sobre religião, sobre coleção de selos, sobre negócios, enquanto a vida, como uma dança, está sempre mudando, sempre em movimento, jamais se fixando em algo.
É bom, vez por outra, mudar de cenário, sair da rotina, ouvir música, assistir a uma boa partida de futebol, visitar amigos, agüar o jardim da casa, dar um mergulho no mar, preparar uma fritada, conviver um pouco com as crianças, arrumar uma gaveta, informar-se sobre tudo o que está acontecendo no mundo, pois não foi sem motivo que a tecnologia criou tanta coisa fabulosa para o homem.
Ser múltiplo, global e não unilateral, provinciano, limitado, repetitivo. Tudo merece a nossa atenção, o nosso interesse, a nossa emoção.