Se Goethe tivesse morrido aqui, no Brasil, sobretudo nesta manhã de sol, evidente que ele, no momento de fechar os olhos para o mundo, não rogaria, dramático:"Luz, mais luz!"
É que no momento em que escrevo esta crônica, faz uma bela manhã de sol. Nem parece que houve tanta chuva na cidade. Longe de mim estabelecer qualquer discriminação entre o sol e a chuva, pois ambos são necessários em nossa vida. Falte água ou falte luz, a reclamação será geral.
Acontece que a maioria das pessoas detesta a chuva, com exceção dos nossos irmãos sertanejos, que a adoram. Se houvesse um plebiscito para se saber quem é o mais querido, se o sol ou a chuva, não há dúvida que esta sofreria uma fragorosa derrota.
Quando abrimos a janela, manhã cedo, e recebemos no rosto a luz do sol, poeticamente bradamos, eufóricos: "Que belo, dia!". Tal exclamação não se ouve diante de um tempo chuvoso. Talvez há até quem pragueje: "Diabo desta maldita chuva, agora!".
Somos assim, irreverentes com a chuva, como se ela também não fosse uma benção divina. Vejam lá se os pássaros ficam tristes quando chega o aguaceiro... Pelo contrário, põem-se a cantar, alegres e felizes. Pelo menos é o que acontece com o papagaio aqui de casa, que não cabe em si de contente quando vê a água caindo do céu. Grita que só ele. Mas os homens...
A chuva provoca desastres, calamidades, derrubando casas e árvores, destruindo barreiras, soterrando pessoas, inundando ruas... Mas de quem é a culpa de tudo isso que acontece? Da chuva ou dos homens? Dos homens, é claro. Por que as autoridades deixam as galerias entupidas? Por que providenciam um melhor sistema de escoamento das águas? A chuva serve de teste para as nossas imprevidências. Não a culpemos. Culpemos a nós mesmos.
Que venha, pois, a água. A água que mata a nossa sede, que limpa as nossas sujeiras, que faz o mar, os rios e os lagos. E que venha também a luz, que ilumina e aquece. Tanto a chuva como o sol merecem a nossa saudação, a nossa veneração. Jamais direi diante de um dia chuvoso - "Que dia feio!" Feia é a nossa visão das coisas.