Tudo nesta vida muda a olhos vistos. Vejam a Natureza, por exemplo, e a incessante dança das estações que ela proporciona. Aquele flamboyant no jardim que agora está nu de flores, um esqueleto de galhos, logo logo terá uma bela vestimenta de cor vermelha. Suba o seu olhar até o céu e contemple o balé silencioso das nuvens. Quantos castelos o vento vai formando! Sinta este dia de sol, que em questão de horas dará lugar a uma noite escura e, pouco depois, ressuscitará em uma madrugada festiva que os galos e os passarinhos saudarão com muita euforia.
E que dizer daquela lagarta que se arrastava pelo chão? Não demorará muito e ei-la transformada em borboleta, voando espaço afora.
As coisas passam. Este livro, cuja leitura está me deleitando, que faz com que eu saia de mim, se acabará, assim como este Concerto nº 2 para piano e orquestra de Rachmaninoff. A música cessará e, por mais bela que seja, não convém que seja eternizada em meus ouvidos.
E, nós? Também chegamos a um fim com a morte? Evidente que não. A morte, como o flamboyant, como a lagarta, como o dia, como o céu enevoado, é apenas uma etapa da nossa mudança. Porque a lei é essa: nascer, viver, morrer e renascer.
O que passamos no presente é apenas uma festa. E essa festa tão esperada, tão desejada, se acaba. O silêncio desce, os pratos e copos ficam vazios e os bocejos invadem o salão. E chega a vez de dizer, dramática e filosoficamente, como ressalta o poeta: “E agora, José?” Ora, ora, agora é esperar por outra festa.
Nós não nos extinguimos quando o pulmão deixa de respirar, quando o sangue deixa de circular, quando o coração deixa de bater. Eis a grande lição da vida, ou melhor, da morte. Deixamos a vestimenta terrestre para habitar outras dimensões. Todavia, nosso pensamento permanece íntegro, e um dia teremos a oportunidade de dizer para o outro, depois de uma longa ausência: “Que bom te ver aqui!” E aquele abraço, e aquela alegria e todas aquelas lágrimas vão aos se transformando em sorrisos! Tenhamos sempre isto em mente.