Tudo na vida tem o seu preço. O preço da vida é a morte. E não venha fazendo cara feia, leitor, porque essa é a lei que vigora em todos os domínios da Natureza. Já disse um filósofo que morremos todos os dias. E isso é uma verdade. Mas quando eu digo que a morte é o preço da vida, é evidente que o que prevalece, o que vence, é a vida.
Sem a noite, não teríamos a alvorada. Tudo nasce e tudo renasce. Já disse Paulo, no alto de sua sabedoria e na profundeza de sua inspiração que se a semente não morrer, isto é, se ela não for enterrada, a planta não germinará, a vida não surgirá. É preciso que tudo morra para nascer de novo. Se nós nos conscientizarmos dessa evidência não haverá desespero, nem escândalo, diante da morte.
Vejam o belo exemplo da lagarta, que se arrasta no chão, pisada e desprezada por todos, até que um dia ela se transfigura, e se transforma numa linda borboleta levitando sobre as flores do jardim e proclamando que a vida prossegue em outra dimensão.
Ainda Paulo, o iluminado de Damasco, enfrentando a morte, gritou: "Morte, onde está a tua vitória?" A vitória é da vida, que jamais se extingue, que é eterna. Mas muitos não pensam assim. Muitos continuam sepultando os seus mortos como se a morte fosse o fim de tudo. E vem a advertência de Jesus quando, convidando um homem para segui-lo, este pediu que o Mestre esperasse, pois tinha antes que ir sepultar o seu pai. E Jesus só fez dizer: "deixa aos mortos sepultarem os seus mortos”. Jesus era a vida e o homem não sabia.
Existem os mortos vivos e os vivos-mortos. Os mortos-vivos são tidos como mortos, no entanto, mortos são os que estão sepultados no apego às coisas materiais, são os cegos para os valores espirituais, são os que ainda não conseguiram transcender, julgando que com a morte da lagarta tudo se acaba.
A vida é uma dança. A dança da mudança. Não existe propriamente destruição, mas transformação. O velho Lavoisier ensinou que nada se perde na Natureza, que tudo se transforma.
A morte é como a escuridão. A escuridão é uma ilusão, uma mentira, não existe ontologicamente, isto é, não existe como ser. Se fosse possível levá-la a um laboratório para análise, o analista nada encontraria. É que a escuridão não tem vida própria. Não tem substância. Já a luz é o contrário. A luz tem substância. A escuridão não existe objetivamente. Ela é apenas a ausência da luz.
Assim é a morte. Não existe. É apenas uma ilusão. Dir-se-ia uma passagem, uma travessia, uma mudança. Mas os vivos-mortos pensam que a morte é o fim. Tem medo dela como o diabo da cruz, como se diz vulgarmente.
Estive olhando agora mesmo o mar. E ele me dizia que suas ondas não morrem na areia da praia. Elas se dissolvem em espumas, para depois ressurgirem em novas ondas. É o jogo da vida que o mar me mostrava. Tudo, portanto, nasce e renasce. É a lei do retorno. O caminho da evolução, a grande meta da vida. Nascemos e renascemos para crescer, para retificar erros, para saldar dívidas. Jesus, depois da crucificação, ressuscitou, assim como o sol renasce todos os dias depois da morte da noite.