Mal me levanto, manhã cedo, para a caminhada diária, e vou logo dando graças aos céus pelas minhas pernas. Aliás, já disse o psicoterapeuta Og Mandino que contar as nossas bênçãos deve ser uma obrigação diária.
Apresso o passo e mergulho nessa multidão de praticantes do cooper. Todos caminhando à sua maneira. Todos com as suas singularidades no andar, no vestir, no falar, no cumprimentar. Há os que adoram levar os seus cachorros a tiracolo. Há os que tapam os ouvidos com um walkman, preferindo ficar surdos ao murmúrio poético do mar, ao cochicho do vento, ao canto eufórico dos bem-te-vis. E ainda tem aqueles que tentam, com as suas rezas silenciosas, falar com um Deus longínquo, lá nas alturas, esquecidos de que Ele está presente em tudo que nos rodeia.
Pernas, mãos, coração, pulmões, quanta coisa vai se beneficiando com essa caminhada que para muita gente é um sacrifício!
E lá vou eu refletindo sobre tudo isso, quando vejo uma jovem caminhando, não sobre os pés, mas sobre rodas. Noto que ela está com um semblante muito alegre, sentindo-se feliz em participar dessa procissão matinal. Os olhos se extasiando com a beleza da manhã, enquanto as mãos movimentam sua cadeira de rodas no asfalto da avenida.
Não está sozinha. Ao seu lado um familiar mantém com ela animada conversa. E o curioso é que seu contentamento contrasta com a tristeza de muitas pessoas de pés sadios e (certamente) de mente enferma. Muitos que ainda não aprenderam a contar as maravilhas que a vida lhes dá gratuitamente.
A jovem da cadeira de rodas tem membros inferiores atrofiados, mas aparenta uma vontade férrea de viver. E ela vê o que muitos não enxergam nessa manhã: o mar, as árvores, os pássaros, o céu, o sol, toda a natureza em festa.
Sem dúvida, ela nos deixa, com o seu sorriso, uma excelente e comovente lição de vida.