Desde que o mundo é mundo o homem procura ver a sua imagem. E diz a lenda que o príncipe Narciso ficou tão emocionado quando viu, pela primeira vez, a sua imagem nas águas tranqüilas de um lago que terminou se apaixonando por si próprio.
A verdade, leitor, é que, graças ao espelho e ao retrato a gente não se engana. Tanto um como o outro são muito realistas. O escritor e pensador José Américo de Almeida disse, certa vez, que só sabia que era velho quando olhava para o espelho. É graças a este imparcial refletor de nossa imagem que observamos melhor a nós mesmos.
José Américo em parte tem razão. Digo em parte porque podemos muito bem atenuar o nosso confronto com o espelho, usando uma faculdade que é própria do homem: o sorriso. Até hoje ninguém viu um animal sorrir. Olhem para o cachorro que sorri apenas pela cauda. Vejam o leão num zoológico. Que solenidade! Lembram os nossos juizes numa sessão do tribunal, vestidos de preto e falando em excelências. Ninguém ali sorri, ou pelo menos, mantém um semblante suave...
O risonho Rabelais gritava, em alto e bom som: o sorriso é próprio do homem.
E aqui vai um conselho, leitor: de manhã, ao acordar, pegue o espelho e sorria. O sorriso é como a luz. Rosto risonho é rosto iluminado. Aliás, a Natureza, todos os dias, nos dá lição de otimismo, através do sorriso das árvores, que mesmo antigas, balançam ao vento e jogam fora as folhas velhas, a exemplo das castanholas.
Você deseja perder o seu dia? Então faça uma careta para o espelho, ou senão fique bem sério. Sério como um cavalo ou um burro. A Natureza, repito, sorri através deste velho sol. Veja o mar, cujas espumas são sorrisos. Os pássaros não sorriem, mas cantam. O que vem dar na mesma coisa. E que dizer das numerosas estrelas à noite? Eis aí um festival de luz.
Portanto, nada de carranca de boi a caminho do matadouro. O sorriso, explicam os nossos psicoterapeutas, faz bem à saúde, reanima as células, fortifica o nosso sistema imunológico. E agora estou pensando em nossas mãos. Separadas, elas não alegram, mas quando se juntam para um aplauso, que alegria, que beleza! Podemos concluir dizendo que as palmas são o sorriso das mãos. E viva a sorriso-terapia!