Ao afirmar que a religião era o ópio do povo, o pensador alemão Karl Marx quis, com isso, dizer que a religião nada mais era do que uma ilusão, uma fantasia, uma fuga. Uma religião que falava de um paraíso e não explicava como era esse paraíso e que se referia à imortalidade da alma mas não a provava só podia ser uma utopia, uma droga para ofuscar a realidade.
Ampliando e metaforizando o conceito, podemos dizer que droga é tudo aquilo que gera dependência e que não preenche o vazio existencial. É tudo aquilo que aliena o homem, que o faz fugir dos problemas, que o inibe de refletir e de transcender.
Nesse sentido, podemos dizer que o dinheiro é uma droga, o poder é uma droga, o sexo é uma droga, o álcool idem, o cigarro também. E por incrível que pareça, até o trabalho pode se constituir numa droga. Aliás os viciados no trabalho são chamados de workaholics.
Quem só vive preocupado em ganhar dinheiro, quem não dispõe mais de tempo para outra atividade a não ser a de enriquecer não passa de um drogado. A vida para ele só tem um objetivo: trabalhar e fazer fortuna. E o dinheiro - como se sabe - é como água salgada, quanto mais se bebe, mais aumenta a sede. A droga do dinheiro, como toda droga, produz dependência. Assemelha-se ao viciado em maconha ou em cocaína, que não se contenta mais com determinada dose. Sempre quer mais. Aí está a sua tragédia.
Outra droga - e esta é muito forte - é a do poder. Talvez seja a mais poderosa de todas. O viciado em mandar não sabe mais fazer outra coisa na vida. O poder lhe dá a ilusão de que é um deus. Daí a volúpia com que mergulha na política. O viciado na droga do poder, em geral, não objetiva dinheiro. O que o atrai, o que o fascina, é o prestígio, é a sensação de estar “de cima”.
O sexo também é outra droga, já que produz dependência. O mesmo podemos dizer do futebol. Mas a droga que está dominando a sociedade contemporânea é a Televisão. Tão perigosa quanto a cocaína. O viciado nela é capaz de passar horas e horas com os olhos pregados no vídeo sem se dar conta do que se passa ao seu redor, sem se dar conta de que o tempo se esvai. Fica completamente hiptnotizado.
Quer ver uma coisa, leitor, procure olhar para os olhos de certos telespectadores. Eles estão completamente absortos, em êxtase. E vá você puxar conversa com um deles para ver a reação... As pessoas já não sabem pensar por si mesmas. Comem, trabalham e se divertem com o aparelho à sua frente.
E o computador? Ah, vamos parar por aqui. Este computador também é outra poderosa droga. Muito cuidado com ele.
Voltando à religião, será que Marx tinha razão quando a ela se referiu com uma droga? Depende, é claro, da religião. A que faz o seu profitente não indagar mais sobre os grandes problemas da existência (problemas expressos nas perguntas: de onde viemos, o que somos e para onde vamos?) não deixa de ser uma droga. Afinal, tudo aquilo que faz o homem esquecer o seu vazio interior, que o aliena, que o leva à distração ao invés da reflexão, que o torna indiferente ou insensível aos magnos problemas da vida, não passa de uma droga. Droga nossa de cada dia.
E você, então, pergunta: como devemos agir? Ora, ora... agir com moderação, com sabedoria, com espírito crítico. Nada de excessos, nada de dependência, nada de exageros. Nunca esquecer esta verdade: o mal não está no uso e sim no abuso.