Ouvi bem quando a moça disse para a amiga que ia passando:
– Minha filha, fulano está nas últimas! Sua vida está por um fio.
Vida por um fio... Qual é a vida que está segura por uma corrente ? Nenhuma. Um homem, sob o peso dos noventa anos, talvez esteja com a vida mais segura do que o pimpolho, que corre o risco de ser atropelado. A vida anda tão perigosa, leitor! Quem pode garantir que estará vivo daqui a poucos minutos?
Todo mundo está com a vida por um fio. Mas ninguém pensa nisso. A maioria pensa que a morte é para os outros. É preciso que a gente se conscientize dessa realidade para viver melhor. A vida com sabedoria é outra coisa. Portanto, nada de julgar que somos eternos nesse escafandro de carne que é o nosso corpo. Convém sempre dar uma olhadela para cima para ver (metaforicamente) o fio que segura a nossa existência.
Aqui para nós: já vi muita gente adoecendo e morrendo, enquanto os mais idosos, mais cautelosos e mais cuidadosos, vão ganhando mais espaços no tempo. Ninguém pode garantir que acorda amanhã vivinho da silva. Ninguém. A morte aqui no mundo ainda é um grande enigma. Sabe-se que ela vem, mas ignora-se o dia. E isto graças à misericórdia divina. Já pensou, leitor, se você soubesse o dia de seu desenlace? Claro que cairia numa profunda depressão. Talvez morresse antes do tempo, suicidando-se, o que não deixaria de ser um paradoxo. É por isso que eu admiro muito aqueles que, embora portadores de uma moléstia irreversível, prosseguem na vida com coragem e otimismo. Eu talvez não chegasse a tanto, apesar de minha filosofia de vida.
Nossas vidas estão por um fio, eis a grande verdade! E esse fio, como não poderia deixar de ser, corta-se ou arrebenta-se com muita facilidade. Até um simples resfriado pode causar o seu rompimento. Um resfriado só não. Qualquer episódio pode romper o cordão umbilical que nos liga a este redondo mundo, que não passa de um imenso útero. Gostei da comparação, que me veio de sopetão. Nós saímos de um útero para entrar em outro muito maior, mas que nada representa diante das imensas galáxias que enchem este universo infinito. Vivemos mergulhados neste útero terreno, completamente indiferentes às maravilhas que nos rodeiam. Até que chega o dia do rompimento do fio...
Voltando à moça, referida no começo da crônica, será que o homem morreu mesmo? Será que o fio partiu, e agora ele flutua como espírito, longe do útero terreno? Bem que eu gostaria de saber...
Muito cuidado com o fio. É bom a gente estar sempre pensando nele. Recomendou um psicoterapeuta que deveríamos olhar cada dia como se fosse o último. Possivelmente muitos sentimentos mesquinhos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de vaidade, de ódio, desapareceriam.
A grande besteira é pensarmos que somos eternos no útero terreno, esquecidos de que, a qualquer momento, surgem a parteira ou médico, e cortam o cordão umbilical.
Sim, leitor, pensando bem, não existe propriamente a morte. O que há é o rompimento do fio, de que ninguém escapa...