Nas manhãs com o sol rasgando as nuvens, ou quando a lua grande vagava lentamente no céu como uma bola dourada, gostava de ficar no quintal de casa observando o sol ou a lua por entre as folhagens do cajueiro existente em minha rua.
A Idade Média fascinava Maurice van Woensel, e não apenas por razões afetivas ou estéticas. Maurice dizia que o essencial das manifestações artísticas do Brasil, e especialmente do Nordeste, enraíza-se no Medievo. E tinha razão. Segundo Afrânio Coutinho, a literatura brasileira nasce sob o signo do Barroco. E o que é o Barroco, senão o efeito da cultura medieval sobre a visão de mundo herdada do Classicismo? Barroco é dualismo, agonia, antítese; o que anima a alma barroca é o impulso cristão de contestar o racionalismo e o humanismo da Grécia e de Roma. Para contestá-los procuramos os modelos teocêntricos de vida e arte vigentes na Idade Média, de cujo imaginário se embebeu nosso espírito latino.
O cheiro de alho refogando na panela e a fumaça da água fervendo na panela são a minha máquina do tempo. Não precisa de engrenagens reluzentes ou luzes piscantes, basta um fio de azeite aquecido, três dentes de alho amassados e a chama amarela do fogo. Enquanto espero dourar, já não estou mais no apartamento minúsculo da cidade grande. Estou na cozinha de paredes de madeira da casa de minha vó,
O Centro Cultural São Francisco foi cenário da segunda edição do Festival Literário Internacional da Paraíba, o FliParaíba, realizado no último mês de novembro. Ao longo de três dias, diversos escritores, pensadores e ativistas cruzaram os umbrais do antigo Convento Franciscano de Santo Antônio, para debater Literatura e temas culturais e sociais, além de lançar livros e aproximar-se do público leitor.
Alguns dos pensadores e escritores que participaram das palestras e debates da Feira Literária Internacional da Paraíba 2025, realizada no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa. ▪ Imagens: CCSF
Pus-me então a refletir quantos outros intelectuais também contemplaram aquele conjunto arquitetônico do século XVIII, que expressa todo o esplendor do barroco brasileiro. Um desses ilustres visitantes foi o escritor Mário de Andrade, em 1929.
Conjunto barroco da Igreja de São Francisco, em João Pessoa, com a fachada e o adro revestidos de detalhes esculpidos que marcam a arquitetura religiosa do século XVIII. ▪ Fonte: T.Advisor
Um modernista assombrado com o barroco
Entre novembro de 1928 e fevereiro de 1929, Mário de Andrade empreendeu uma expedição pelo Nordeste para realizar uma série de pesquisas etnográficas. O escritor registrou suas impressões em um diário, publicado somente em 1976 sob o título de O Turista Aprendiz. A edição de que me valho é a do Instituto do Patrimônio Histórico e
A senhora Sartre não deve ter gostado nem um pouco. Insinuou-se para o amigo Albert Camus e ele esquivou-se, recusando a dádiva. Para os brios de uma mulher, qualquer mulher, ser recusada não é fácil; imagine-se para uma voluntariosa como Simone de Beauvoir, acostumada a conquistas fáceis, facilitadas menos por seus dotes físicos que pelos intelectuais, estes sempre fascinantes na França dos literatos e filósofos. Tão fascinantes que até um feio por excelência como Sartre atuou durante anos como um verdadeiro Dom Juan entre alunas e admiradoras.
Contei para minha filha de dez anos a história do pai que, ocupado demais para brincar com o filho, rasgou uma grande página de jornal que trazia um mapa-múndi bastante complexo e a entregou ao menino como um quebra-cabeça improvisado.
Pouco tempo depois, para surpresa do pai, o garoto voltou com tudo perfeitamente montado.
Tomei gosto pela história da Paraíba, eu ainda bem jovem, logo que saí do gibi. Na biblioteca da minha cidade (Alagoa Nova), os autores preferidos, como no país inteiro, eram Alencar, de O Guarani e Iracema; Castro Alves, de O Navio Negreiro; Macedo, de A Moreninha; e, disputadíssima, a Anthologia Nacional — assim com "th" — que a prefeitura do espírita e intelectual Arlindo Colaço empenhara-se em disponibilizar com o maior número possível de exemplares. A biblioteca era pretensiosa como o seu fundador e sem espaço para o número de “dependentes”. E isso angustiava o prefeito, que aparecia com frequência para conferir a repercussão de sua obra.
“Como um dragão encheste a terra de veneno.
Como trovão, quando ruges sobre o mundo árvores e plantas caem diante de ti.
Tu és a enchente descendo a montanha, ó primeva, deusa da lua, Inanna, do céu e da terra.
Teu fogo explode ao redor e cai sobre a nossa nação.
O mito é elemento fulcral no mundo dos clássicos greco-latinos, e, para adentrar esse espaço, é preciso ser iniciado, a fim de compreender, gradativamente, a ética, os valores, as práticas religiosas, os papeis e os sentidos desse universo múltiplo denominado Antiguidade Clássica.
Era uma menina bem pequena, deveria ter seis anos, quase sete. Ela dormia em um sótão repleto de móveis velhos para consertar. Tinha uma cama, uma cadeira, roupas mais ou menos limpas e as suas — muito poucas — em uma malinha; outras, dependuradas em pregos.
Há vestígios da melancolia entre várias civilizações ao longo das eras. Algumas das mais primitivas descrições a respeito dos estados de alteração do humor podem ser encontradas nas escrituras bíblicas e na mitologia grega — na verdade, em várias mitologias de povos da Antiguidade. A mitologia grega, em especial, rica em personagens, reportava-se à Oizius (Ὀϊζύς), uma daimon (demônio), ou seja, um espírito que personificava a tristeza e a angústia,
É incontestável, entre outras coisas, a cultura literária de Victor Hugo. Quem quer que leia as suas obras notará que as referências literárias são sólidas, não são simples alusões. O Inferno de Dante, assunto a que, oportunamente, retornaremos, é refletido em Os miseráveis de uma maneira que só poderia ter sido feita por quem conhece com profundidade a Commedia. Fazemos essas considerações com a intenção de
Um amigo me contou que o sábio Chico Souto ensinava existirem três coisas que não se pode esconder: dinheiro, tosse e paixão. É uma verdade, principalmente aqui, terra de muro baixo, onde todo mundo sabe da vida dos outros (mesmo não querendo), berço da grande verdade: “Dinheiro na Paraíba deixa mais rastro do que trator de esteira na areia da praia”.
Um dos lugares mais quentes da Parahyba fica no entorno das Serras Caririzeiras. Com seus picos acidentados e irregulares, e os arredores com seus penhascos imensos, grotas profundas, grutas em vales sinuosos e abrigos rochosos compostos por rearranjo de pedras arredondadas, tudo isso compõe uma maravilha geológica fascinante de rochas gigantes formando grupos graníticos que aguentaram bravamente as forças erosivas do tempo. Chuva e vento não foram capazes, em milhares de anos, de erodir completamente esse lugar.
Daniel não me saiu da cabeça a semana inteira. Ele mesmo, o profeta, aquele em cujo benefício Deus cerrou as bocas dos leões de Dario. Diz-se que isso ocorreu na Babilônia, entre 522 a 486 antes de Cristo, por aí assim.