Uma data marcante para mim é o dia 5 de fevereiro de 1975. Nesta data, minha primeira crônica foi publicada no jornal O Norte. Pouco mais de uma lauda datilografada na Remington. Um texto curto que relembrava uma viagem a Serraria, quatro anos depois que de lá tinha saído.
Eu nunca tinha ouvido falar em Léo Lins até a imprensa divulgar a esdrúxula sentença proferida contra ele. Ou seja: pelo menos para mim, a punição tornou visível a figura do comediante. Fui então conhecer os motivos pelos quais o penalizaram.
Há uma caixa no centro da mesa. Você a conhece bem: é quadrada, de paredes rígidas, com cantos precisos. Dentro dela cabem todas as respostas que você aprendeu a repetir, os "porquês" que não precisam mais ser questionados e os caminhos que todos já pisaram. O pensamento dentro da caixa é seguro, previsível, quase um ritual. Mas e se, em um dia comum, você resolvesse escalar suas paredes e olhar para além das quinas?
Aqueles que se dedicam a arte como forma de humanizar nossa vida cotidiana, que caracteriza o discipulado hipocrático vem de forma telúrica, sublime e sutil, propiciar um verdadeiro bailado dos seus dedos ao reproduzirem notas musicais de Rachmaninov nas teclas do piano, evidenciando o mesmo efeito do encontro digital criado por Michelangelo, no teto da Capela Sistina, entre o divino e o humano representando a criação da vida.
Ele chamou de irreverentes os seus ensaios reunidos em livro recentemente publicado (Editora A União, João Pessoa, 2025). E de fato o são, na medida em que não presta reverência acrítica aos autores que comenta, alguns deles verdadeiros ídolos para muita gente. Mas eu quero chamá-los de destemidos, já que alguns vão na contramão dos juízos estabelecidos. Clemente não se intimida com reputações e defende suas opiniões com argumentos respeitáveis. Merece respeito, pois.
Antônio da Rocha Barreto, um dos fundadores da Academia Paraibana de Letras, foi autor de um livrinho só. Foi essencialmente jornalista, já aparecendo em 1930, quando a onda revolucionária fechou O Norte, ele como o chefe de redação. Chefe no dia em que contava com outros companheiros, e chefe dele próprio quando tinha de abrir e fechar o jornal sem outra ajuda. Era o jornal de Orris e Oscar Soares, Orris escritor, prefaciador consagrado da 2ª edição do EU, dramaturgo e autor de dicionário de filosofia editado até o 3º volume pelo INL/MEC.
“Preparai os ouvidos e também os olhos e o espírito, se quereis ter valor para saber coisas que excedem tudo o que a imaginação pode criar de mais extraordinário.”
Excerto de O Rei das Ilhas Negras ao Sultão, em As Mil e Uma Noites.
Em meados de junho de 1625, há exatos quatrocentos anos, chegava ao litoral da Paraíba uma poderosa armada holandesa que, durante cerca de 40 dias, ficou ancorada na Baía da Traição. Apesar dessa curta permanência em terras paraibanas, os neerlandeses conseguiram, naquela ocasião, construir uma relação de amizade com o grupo indígena Potiguara que vivia na região o que, anos depois,
Confúcio (Kǒng Fūzǐ, 551–479 a.C.) foi um filósofo chinês de ideias centradas na moralidade individual, social e governamental, na importância das relações humanas e na busca pela harmonia social por meio da sinceridade e respeito. Um dos seus conceitos mais conhecidos é a compaixão, considerada por ele como a virtude suprema que todo ser humano deve cultivar. Trata-se da capacidade de sentir empatia, agir com bondade e respeitar os outros elegendo a solidariedade como fundamento da convivência harmoniosa e do bem-estar coletivo. O sábio chinês afirmava que todo líder ou governante virtuoso deve possuir benevolência para governar com justiça e sabedoria.
No final da década de 90 conheci dois paulistanos: Iliseu Garcia e Octávio Caúmo Serrano. Juntamente com o paraibano Bob Vagner, formamos um quarteto de amigos. Para estreitar essa amizade, quis o destino que se criasse o programa semanal de TV "Nova Consciência", numa realização da Associação de Divulgadores Espíritas da Paraíba (ADE-PB), com o apoio da Federação Espírita Paraibana (FEPB).
O dicionário Houaiss, no verbete “baderna 1”, registra a seguinte informação etimológica: “segundo Antônio Soares, do antr. Marieta Baderna, dançarina it. que esteve no Rio de Janeiro em 1851, provocando ‘um certo frisson’.” O Dicionário etimológico Nova Fronteira, de Antônio Geraldo da Cunha (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, s.v. “baderna2”)
A palavra do dia é moderação. Na música Positivismo, o grande Noel Rosa constrói uma belíssima e inusitada metáfora, como um conselho à amada que despreza o seu amante e o deixa:
MM\
Vai, orgulhosa, querida
Mas aceita esta lição:
No câmbio incerto da vida
A libra sempre é o coração.
GD'Art
Os poetas, os verdadeiros, aqueles oriundos e constituídos da melhor cepa, podem tudo, e a metáfora da libra como o fiel da balança, aliada à outra que trata a instabilidade natural da vida como “câmbio incerto da vida” é simplesmente genial. Não esqueçamos que durante muito tempo e ainda em vigor na Inglaterra, Reino Unido e Grã-Bretanha, a libra é simultaneamente uma medida de peso e um valor monetário. Assim, o poeta dá uma pequena lição na instabilidade da amada, advertindo que o equilíbrio e maior valor que podemos ter reside no amor
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e, no caso, na sua representação metonímica, o coração.
De Noel, passamos para o latim no seu sintetismo, dizendo muito com poucas palavras – in medio virtus. Embora a expressão latina queira dizer apenas o que ali se encontra, que o meio, o equilíbrio, a moderação é onde se encontra a virtude do ser humano, há os que distorcem o significado entendendo a sentença como uma definição de mediocridade, como se a mediania não fosse um perfil geral, como se a expressão significasse apenas a inferioridade. Todos somos medianos. Acima disso, os gênios.
A mediania nos ensina a viver e dar outros voos de vez em quando, mas sempre voltando para pôr os pés na terra, onde está a nossa segurança. Mediania é um outro nome para a moderação que todos devemos ter, o que poderíamos também chamar de sobriedade.
Vamos para a língua grega, com a sua precisão no emprego dos seus termos. Para o homem grego, desde os tempos arcaicos, o que equivale dizer tempos homéricos, o diafragma era a sede do saber, do raciocínio, da reflexão.
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Ainda não se conhecia a fisiologia do cérebro, para lhe atribuir a capacidade do pensamento. O cérebro era apenas o que estava dentro da cabeça, o encéfalo (ἐγκέφαλος). Toda atividade nobre de amadurecimento espiritual, no sentido de exercitar-se para a moderação, para a continência, estava atribuída ao diafragma. E há uma explicação lógica para isto. O diafragma é um grande músculo peitoral, cobrindo todo o esterno, que movimenta a respiração. Quando aprendemos a respirar, passamos a moderar os nossos impulsos, afastando-nos de tomar medidas das quais iríamos, certamente, nos arrepender. Não é à toa que, quando alguém está tendo um ataque de pânico ou de ansiedade, pede-se que ela respire dentro de um saco de papel, de modo a poder controlar-se.
A palavra diafragma, em grego, é frén (φρῆν), cuja raiz se encontra em um dos mais caros termos para Platão. O termo também é caro no âmbito da tragédia grega, para o entendimento do erro transcendental que o homem comete, cavando sob os próprios pés um grande abismo, do qual, dificilmente,
A moderação é exercício diário, que nos dá mais tempo para a reflexão, para que nos dobremos sobre o nosso pensamento, antes de pronunciá-lo.
ele conseguirá escapar, não por culpa dos outros, mas das suas carentes de reflexão: sōfrosyne (σωφροσύνη). Em suma, quando nos falta a reflexão necessária, para agirmos com moderação, pagamos pelos nossos erros, e não adianta culpar os outros.
Ao que parece, de uns anos para cá, esquecemos de cultivar a moderação, sendo o destempero a nota corrente, com as pessoas se exaltando e fazendo de qualquer atitude do outro um motivo para um digladiar-se sem fim.
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Finalizemos com a toga romana. Otávio César Augusto, cultor dos velhos costumes, tomados como bons e como modelo de moralidade, os mores maiorum, reintroduziu durante o seu governo, longo governo de 58 anos (44 a. C. – 14 d. C.), o uso da toga entre os patrícios, de um modo geral. O objetivo? O exercício diário da moderação, que começa através da diminuição da gesticulação. Como a toga exige a ocupação de um dos braços, além de ser uma vestimenta que limita os movimentos expansivos, os chamados gestos largos e efusivos tendiam a diminuir.
A moderação, portanto, é exercício diário, que nos dá, pelo cerceamento da efusividade e da impulsividade, mais tempo para a reflexão, para que nos dobremos sobre o nosso pensamento, antes de pronunciá-lo. Não esqueçamos que uma das imagens caras a Homero é uma referência a “proferir palavras aladas” (ἔπεα πτερόεντα προσηύδα, Ilíada, Canto IV, verso 284). Paralelamente, havia a expressão “palavra que transpõe a barreira dos dentes” (ποῖόν σε ἔπος φύγεν ἔρκος ὀδόντων, Odisseia, Canto I, verso 64). Se as palavras aladas podem ser boas, quando ditadas pela sōfrosyne, elas serão danosas, quando irrefletidas, porque depois que transpõem a barreira dos dentes, tendem a destruir o equilíbrio, a moderação, a reflexão, que habitam a mediania e fazem o mundo avançar.
Próxima semana comemora-se o dia do dito Santo casamenteiro. Santo Antônio era Fernando Bulhões, nascido em Portugal, porém vivendo a maior parte de sua vida na cidade de Pádua (Itália). Isso todo mundo sabe.
Nas invasões de longa duração, invasores e invadidos acabam por adotar, uns dos outros, um tanto de seus costumes, suas línguas e suas almas. A história tem uma enormidade desses casos. Há quem garanta, por exemplo, que a Guerra dos Cem Anos levou a França a incorporar manifestações dos ingleses como a quadrilha, dança de salão assim denominada porque inicialmente composta por quatro casais. E em espaços quadrados, acrescem outros pesquisadores. Estamos a falar do Século 13 e de narrativas disseminadas, hoje em dia, desde os centros acadêmicos até as páginas de jornais e revistas.
Poucos jornalistas na Paraíba conquistaram o respeito que Frutuoso Chaves, em quase sessenta anos de batente, granjeou. Iniciado, como ele mesmo diz, na cozinha do jornal, o baixinho Frutuoso naquele